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Foto do escritorMiguel Manso

A discriminação e a hipocrisia na defesa da participação das mulheres na política

Atualizado: 8 de jul.


Por Miguel Manso




A participação das mulheres na política tem sido um tema amplamente discutido e promovido como um pilar fundamental para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.


Diversos líderes políticos e partidos têm abraçado essa causa, defendendo a inclusão feminina como um direito inalienável e uma necessidade democrática. No entanto, em alguns casos, a prática revela uma contradição alarmante entre o discurso e as ações, evidenciando uma hipocrisia que prejudica a verdadeira essência da igualdade de gênero na política.


A Importância da Participação Feminina na Política


A participação das mulheres na política é crucial por várias razões. Primeiro, a representatividade é um dos fundamentos da democracia. Uma democracia saudável deve refletir a diversidade da sociedade, incluindo gênero, raça, etnia e outras identidades. Quando as mulheres estão sub-representadas nos espaços de poder, as decisões políticas tendem a ignorar ou subestimar as questões que afetam diretamente suas vidas.


Além disso, estudos mostram que a presença de mulheres em cargos políticos tende a promover políticas mais inclusivas e equilibradas. As mulheres frequentemente trazem novas perspectivas e abordagens para a resolução de problemas, contribuindo para a elaboração de políticas que beneficiam a sociedade como um todo. Por exemplo, a maior presença feminina em parlamentos tem sido associada a uma maior atenção a questões como saúde, educação, cultura, ciência e igualdade social.


A sub-representação das mulheres na política brasileira


Considerando que as mulheres representam cerca de 51,8% da população brasileira, a disparidade na representatividade feminina nas prefeituras e câmaras municipais é evidente:


  • Nas prefeituras, com 11,8% de representação feminina, há uma sub-representação de 40%.


  • Nas câmaras municipais, com 15,8% de representação feminina, há uma sub-representação de 36%.


Representação das Mulheres na Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados do Brasil possui 513 membros. Após as eleições de 2022, o número de deputadas eleitas foi de 91, o que representa aproximadamente 17,7% do total.


Representação das Mulheres no Senado Federal

O Senado Federal do Brasil é composto por 81 senadores. Após as eleições de 2022, 15 senadoras foram eleitas, o que representa aproximadamente 18,5% do total.


Comparação com a População Brasileira

As mulheres representam cerca de 51,8% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Comparando esses dados com a representatividade feminina nos parlamentos, a disparidade é evidente:

  • Na Câmara dos Deputados, com 17,7% de representação feminina, há uma sub-representação de 34,1% em relação à proporção de mulheres na população.

  • No Senado Federal, com 18,5% de representação feminina, a sub-representação é de 33,3%.


Comparação Internacional

Para contextualizar a sub-representação das mulheres no Brasil, podemos compará-la com outros países. De acordo com a União Interparlamentar (UIP):

  • Em 2023, a média global de representação feminina nos parlamentos era de aproximadamente 25,5%.


O Discurso Versus a Prática


Apesar do reconhecimento teórico da importância da participação feminina, a prática nem sempre corresponde ao discurso. Em muitos casos, políticos que publicamente defendem a inclusão das mulheres agem de maneira contrária quando se sentem ameaçados por candidaturas femininas que ganham expressão social.


Esse comportamento contraditório não só é prejudicial para as mulheres diretamente afetadas, mas também mina a confiança pública nas intenções e integridade desses líderes.


Quando uma candidatura feminina é suprimida ou sabotada para proteger os interesses de outros candidatos, revela-se uma hipocrisia que vai além da simples incongruência. Essa atitude mostra uma falta de compromisso real com os princípios de igualdade e justiça que são proclamados. Ações como essa perpetuam a exclusão e a marginalização das mulheres, reforçando estruturas de poder que beneficiam apenas um grupo restrito.


As Consequências da Hipocrisia Política


A hipocrisia na defesa da participação das mulheres na política tem várias consequências negativas.


Primeiramente, desmoraliza e desencoraja outras mulheres que aspiram a cargos políticos, perpetuando o ciclo de sub-representação. Além disso, a desconfiança pública na sinceridade dos políticos pode levar a um cinismo generalizado e a uma desilusão com o processo democrático.


Para a sociedade como um todo, a falta de participação significativa das mulheres resulta em um desequilíbrio nas políticas públicas.


As necessidades e perspectivas das mulheres são frequentemente negligenciadas, resultando em políticas que não atendem de forma adequada a toda a população.


Esse desequilíbrio pode levar a desigualdades persistentes e a uma falta de progresso em áreas cruciais para o desenvolvimento social e econômico.


Caminhos para a Verdadeira Inclusão


Para superar essa hipocrisia e promover uma verdadeira inclusão das mulheres na política, é necessário um compromisso genuíno e consistente com os princípios de igualdade.


Isso inclui:


  1. Transparência e Responsabilidade: Os partidos e líderes políticos devem ser transparentes em suas ações e responsabilizados por qualquer contradição entre suas palavras e ações.

  2. Apoio e Mentoria: As mulheres candidatas precisam de apoio e mentoria para navegar no ambiente político, que muitas vezes pode ser hostil e discriminatório.

  3. Legislação e Políticas de Inclusão: Implementar e fortalecer leis e políticas que promovam a igualdade de gênero na política, como cotas de gênero e financiamento público para campanhas femininas.

  4. Cultura de Respeito e Igualdade: Fomentar uma cultura política que valorize e respeite a diversidade, onde as mulheres sejam vistas e tratadas como iguais.


A defesa da participação das mulheres na política deve ser mais do que uma retórica conveniente; deve ser um compromisso inabalável com a justiça e a igualdade.


Somente através de ações consistentes e sinceras podemos construir uma democracia verdadeiramente inclusiva, onde todos, independentemente de gênero, têm a oportunidade de participar e contribuir para o bem comum.


A hipocrisia política não tem lugar em uma sociedade que aspira à equidade e ao progresso. Muito menos entre os que se propugnam democratas e progressistas, ainda mais neste ambiente onde é preciso defender os direitos das mulheres, com mais coragem, diante das ameaças dó ódio e do sectarismo, do negacionismo e do fascismo.

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