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Allan Yukio Hayama

A esperança renasce e devemos disputar os rumos do Brasil


Por Allan Yukio Hayama,Engenheiro de Produção


A geopolítica mundial está em constante disputa. As novas relações entre capital e trabalho estão em constantes mudanças. A “Indústria 4.0” é uma expressão que foi forjada, capturada e que traduz a política desse novo contexto neoliberal, visando manter a dianteira global em projetos e na construção de máquinas e equipamentos inteligentes, esforço articulado que reúne governos, empresários e acadêmicos para a reprodução sistemática da mais valia dos trabalhadores.


E dentro dessa corrida têm se desenvolvido uma busca constante por um posicionamento estratégico nos campos da nova indústria, como o armazenamento e tratamento de dados (inclusive dentro do campo econômico), busca por novas matrizes energéticas, maior produtividade nos processos produtivos.


Ao mesmo tempo, a geopolítica mundial se caracteriza pela decadência do imperialismo norte-americano e pela ascensão de novos pólos de poder, com destaque para a China e para a Rússia. Esse cenário aponta para a transição da ordem unipolaridade para a multipolaridade, que agrava contradições de uma era de instabilidade no cenário internacional.


Neste cenário de contradições, iremos abordar alguns aspectos que são centrais nessa disputa principalmente entre China e EUA e o quais são os desafios para o Brasil


Ponto de vista econômico


Sabemos que, atualmente, o que rege o mundo das finanças é o padrão “petrodolar”. Esse padrão permanece desde o fim do tratado de Bretton Woods. Com as novas tecnologias das criptomoedas, a China recentemente iniciou testes de uma moeda digitalizada, chamada e-RMB. Na prática, isto diminui enormemente o poder americano de influenciar os fluxos comerciais por meio de ajustes em seu câmbio.

As relações financeiras entre China e Rússia e que não utilizam o dólar como peça para as trocas colocam em risco a hegemonia do padrão petrodólares. Desafiar o padrão dólar talvez seja um dos maiores golpes da China em tempos da chamada “guerra comercial e tecnológica” contra a hegemonia estadunidense. A descontinuidade (mesmo que em “testes”) da maior economia mundial desse sistema poderá ser desastrosa para a economia americana, uma vez que seu principal veículo de financiamento se dá justamente pela impressão da moeda demandada, obrigatoriamente, pelo mundo inteiro.


Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), essas novas tecnologias financeiras terão papel decisivo na reconfiguração do sistema financeiro global nos próximos anos, quem sabe, reposicionando as moedas hegemônicas.


Ponto de vista energético


Na corrida pela mudança das matrizes energéticas, a mudança do consumo de energias fósseis pelas energias renováveis é apenas mais uma variável das narrativas (do ponto de vista ambiental) para os ganhos extraordinários da acumulação capitalista. Esse tema, também, torna-se estratégico, pois, para além do discurso ambiental, é uma corrida tecnológica da infraestrutura do processo produtivo.


Equivale a um enorme ganho real de produtividade com a "internet das coisas”, pois exige mais energias e mais equipamentos que permitam armazenar e consumir essa energia. O mundo está disputando o modelo de transição energética. Qual tipo de matriz energética, tecnológica e qual vai ser o centro intelectual mundial? As condições energéticas de um país, em especial dos minerais, eletricidade e petróleo, poderiam significar grandes vantagens para o desenvolvimento de seu povo e da produção.


Esse tema estratégico coloca a América do Sul como o principal protagonista nessa disputa, pois possui uma das condições mais vantajosas mundialmente. No entanto, questões do modelo de mercado que organizam a produção e distribuição da energia elétrica, as mudanças políticas no petróleo, a descoberta de grandes reservas naturais de nióbio e lítio e a falta de política soberana se tornaram entraves para o melhor desenvolvimento do cone sul.


Há um processo de destruição da soberania, da ciência e tecnologia e de todas as iniciativas de industrialização para ser implementado o modelo de mercado através da liberalização dos preços a patamares internacionais dessas comodities (até mesmo com golpes institucionais que vimos nos últimos anos).


Quais são os desafios do brasil?


A vitória de Lula consolida uma mudança na relação política de forças, que vem se materializando desde o processo de deslegitimação da Operação Lava Jato, da libertação do Lula e da crise institucional provocada pelos intentos golpistas do governo Bolsonaro. Com o resultado das eleições, o quadro é de ofensiva tática dentro de um quadro de defensiva estratégica.


A curta margem que permitiu a vitória do PT demonstra a força da extrema-direita, Assim, embora a vitória de Lula abra um horizonte mais favorável, não é possível afirmar que as forças populares tenham revertido a correlação desfavorável de forças entre as classes. O bolsonarismo se manterá como uma força política na oposição ao governo Lula, com apoio em diversos setores da sociedade, e também infiltrado nas instituições do Estado. As forças neoliberais atuam para tutelar as políticas do governo e impedir mudanças na economia, como a flexibilização da política fiscal.


Com isso, não está descartado o cenário de “ganhar e não levar”, como aconteceu em 2014, quando Dilma foi eleita, mas seu governo foi progressivamente inviabilizado até a consumação do golpe. Ainda que o PT tenha ganhado aquela eleição, as forças populares já estavam em uma etapa defensiva.

A reversão da correlação de forças dependerá da capacidade do governo de implementar o seu programa, o que será possível apenas com a ampliação da organização popular, com um novo ciclo de lutas sociais e com o enfrentamento ideológico para disputar os rumos da sociedade. Dessa forma, serão superadas as manobras de desestabilização política da extrema-direita, bem como as tentativas do “centrão”, da direita tradicional e dos grandes capitalistas de redefinir a orientação política do governo.

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