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A luta pela democracia é permanente

Foto do escritor: EngD EngD

Michel Labaki




A pior fase da ditadura foi do dia 13 de dezembro de 1968, dia do AI-5, até meados da década de 70, quando ela começou a se enfraquecer politicamente.


A partir do assassinado de Vladimir Herzog, em outubro de 1975, começou o desgaste político e o início da queda da ditadura.


A reação popular, a missa e o culto ecumênico na Catedral da Sé e outras manifestações, favoreceram a luta pela democracia naquela ocasião.


Houve ainda alguns episódios de violência e repressão da ditadura, como o assassinato de Pedro Pomar e outros dirigentes do PC do B, no final de 1976, no bairro da Lapa em São Paulo e, em meados de 1977, a prisão de diversos militantes do MEP no Rio de Janeiro.


Nesta mesma época houve o ressurgimento do movimento estudantil nas ruas e pouco tempo depois o reinício das lutas operárias, principalmente no ABC paulista.

Havia uma determinação do governo Geisel em permitir uma abertura, “lenta, gradual e segura”.


Mas essa determinação não era uma unanimidade no governo. Em setembro de 1977 houve um episódio que não é muito comentado, mas é uma evidência de como a luta pela democracia é algo que tem que ser permanente.


Se descuidarmos haverá retrocesso.


Um cronista do cotidiano, que escrevia na Folha de São Paulo naquela época, Lourenço Diaféria, era muito popular.


Humanista, católico, escrevia crônicas leves, sobre diversos temas, e praticamente não falava sobre política.


No dia 1º de setembro de 1977, Lourenço Diaféria escreveu uma crônica sobre um episódio ocorrido no zoológico de Brasília.


Um garoto caiu num poço de ariranhas e foi salvo por um sargento do exército, Silvio Holenbach. Ele salvou o garoto, mas foi morto pelas ariranhas.


O título da crônica era “Herói. Morto. Nós”.


Lourenço Diaféria escreveu que o sargento não hesitou em salvar a criança e que ele é o verdadeiro herói popular e não o Duque de Caxias, uma estátua no centro de São Paulo que servia de mictório para bêbados.


A crônica de Diaféria trazia uma frase em que dizia: “todavia, eu digo, com todas as letras: prefiro esse sargento herói ao Duque de Caxias. O Duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua”.


Houve uma indignação do Exército contra essa frase do Lourenço Diaféria e ele foi preso.


Ficou alguns dias preso. A Folha defendeu o cronista e no dia em que seria publicada outra crônica do Lourenço Diaféria, deixou um espaço em branco no lugar.


Depois de alguns dias, ele foi solto e disse que tinha sido tratado sem qualquer violência física e o episódio se encerrou.


Lembrei-me desse caso e faço algum paralelo com a situação atual.


As Forças Armadas brasileiras nunca tiveram seus torturadores punidos. Ao contrário de militares do Chile, Argentina e Uruguai que atuaram na repressão política e que foram processados e condenados, no Brasil houve a anistia recíproca em 1979.

Não sei se por esse ou outros motivos, ainda há militares que sonham com o fechamento da democracia.


O planejamento de um golpe no final de 2022, quando seriam assassinados Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. O golpe a ser dado por Jair e seus seguidores, fracassou.


Jair havia perdido a eleição para Lula e não se conformava e não se conforma até hoje.


Há a questão do julgamento e punição dos culpados pelo planejamento desse golpe, que deve ainda se arrastar um pouco.


Melhor do que ele preso e tentando articular travessuras golpistas da prisão. Essa é uma opinião, apenas do ponto de vista político e não jurídico ou processual.



Michel Labaki é engenheiro metalurgista aposentado
Michel Labaki é engenheiro metalurgista aposentado

Publicado originalmente em Construir Resistência.

 
 

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