A semana ainda não terminou, mas todos aqueles que lutam pela democracia e pela liberdade têm muito a comemorar. Seja pela libertação do ativista australiano Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, seja pelo fracasso da tentativa de golpe militar na Bolívia, o mundo respira melhor.
Ícone da luta pela liberdade de expressão, Assange deu publicidade a 700 mil documentos norte-americanos classificados como secretos, além de 5 milhões de e-mails confidenciais da empresa americana de inteligência Stratfor. A maioria dos papéis era de origem militar, o que desnudou diversos crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos.
Perseguido implacavelmente pelos Estados Unidos, sob o risco de ser condenado à prisão perpétua ou até à morte, Assange ficou asilado durante sete anos na Embaixada do Equador em Londres. Preso em 2019, permaneceu encarcerado no Reino Unido por cinco anos – ou, precisamente, 1.901 dias. Ele foi acusado por 18 crimes, pelos quais poderia pegar até 175 anos de prisão.
Na segunda-feira (24), um acordo com a Justiça dos Estados Unidos tirou Assange da prisão de segurança máxima de Belmarsh, sob a condição de que ele se declarasse culpado de uma das inúmeras acusações criminais. Agora, o líder do WikiLeaks está oficialmente livre.
De acordo com a BBC, “pelos termos do acordo, o ativista não ficaria em nenhum momento sob custódia americana, e não teria que cumprir pena de prisão. O Departamento de Justiça dos EUA vai levar em consideração o tempo que ele já cumpriu no Reino Unido”.
Já na Bolívia, a tentativa de derrubar o presidente Luís Arce, por meio de um golpe militar apoiado pelos Estados Unidos, fracassou em poucas horas. Por ordem do general Juan José Zuñiga – que acabou de ser demitido do cargo de comandante do Exército –, tanques invadirem palácio presidencial nesta quarta-feira (26).
O interesse maior dos golpistas é econômico, dadas as grandes reservas de minérios, especialmente o lítio. Ao lado da Argentina e do Chile, a Bolívia integra o chamado “Triângulo do Lítio”. Componente indispensável para as baterias de carros elétricos e outros dispositivos eletrônicos, o lítio é chamado de “petróleo do século 21”. Desde o governo Evo Morales, as reservas do minério estão sob controle estatal.
A pronta resposta do governo Arce e o apoio popular esvaziaram a manobra e reforçaram o caráter do país como um Estado Plurinacional. Porém, as ameaças permanecem. O histórico de ofensivas golpistas na Bolívia serve de alerta para as forças progressistas e democráticas que, com muita luta, conseguiram reconquistar o poder, após o golpe de 2019.
O governo legítimo da Bolívia recebeu ampla solidariedade internacional, em defesa do Estado Democrático de Direito e da autodeterminação dos povos. Arce citou nominalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que de pronto se pôs em repúdio ao golpe: “Saudamos e agradecemos o firme apoio do irmão presidente de Brasil, Lula, que condenou o fracassado golpe de Estado na Bolívia e se manifestou a favor da democracia boliviana”
Além do avanço democrático, tanto a vitória de Assange quanto a reafirmação da democracia boliviana reforçam a luta anti-imperialista. Num mundo cada vez menos unipolar, os movimentos da semana mostram dificuldades sem precedentes para os Estados Unidos imporem sua agenda. É um avanço a ser celebrado.
Comments