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Quando o ódio vence a tristeza, mas não a esperança

Guaraci Corrêa Porto

Por Guaraci Corrêa Porto (*)


Apesar de não haver sido criado com o preconceito de que “homem não chora”, eu me lembro de haver chorado muito poucas vezes na minha vida. Isso aconteceu num dos últimos dias em que fui a uma obra da Petrobrás e assisti milhares de operários fazendo uma fila para assinar sua demissão. O espetáculo sugeria um filme épico, figurado por milhares de “escravos” a construir grandes obras em meio ao pó que se erguia do chão, mas não disfarçava a dor e a tristeza que dele transbordavam.


Aqueles operários, seus filhos, sua família e dependentes iriam passar necessidades e, até, fome. Depois de algum tempo, eu só conseguia me lembrar da grande quantidade de pessoas que estavam comemorando aquele acontecimento – pela sua insensibilidade, ignorância ou maldade – ou as três juntas. Como das outras vezes, a raiva conseguiu nublar a tristeza e, logo depois, aquela foi suplantada pelo ódio contra quem causou essa situação.


O sofrimento imposto aqueles operários e suas famílias não os punia pelo que haviam errado – eles não erraram. Aquele sofrimento era uma etapa absolutamente necessária para os objetivos que fizeram os traidores da Pátria criar o plano macabro da destruição da Economia, que crescia a olhos vistos, como podem atestar os índices disponíveis em qualquer instituto especializado não comprometido.


Se erros foram cometidos por aqueles operários foi de ter passado parte de sua vida com um padrão que nunca lhes havia sido oferecido. Fazendo três refeições ao dia, comprando eletrodomésticos, viajando – ou seja, fazendo o que gostamos de fazer ou de que nossos amigos façam.Pretender que as riquezas de seu país revertessem para o bem do povo e – supremaousadia – nãocompactuar com o imperialismo. Isso era demais para a canalha entreguista que se acostumou a ver o país espoliado e o povo sofrendo, a troco de pequenas sobras que os dominadores lhes atiram com asco e desdém. Aliás, em todo processo de dominação, existe a conivência dos dominados, por quem o dominador, no fundo, tem desprezo.


Houve, inclusive, quem não conseguisse esconder o prazer que sentia e afirmado que “ir a Paris não apresentava mais charme – poderia se ver o porteiro do prédio no aeroporto” ou, um ministro de estado, “até empregada doméstica ia à disneylândia”. Essas situações não ocorreram. Não conheço ninguém que tenha encontrado um porteiro em Paris ou uma empregada doméstica na disneylândia – apenas ilustram o sentimento classista, perverso e egoísta dos que pensam assim. É claro que com a cor local e procurando manter a crença que “o brasileiro é avesso à violência”. Que o digam os escravos.


O povo, indiscutivelmente, melhorou de vida, durante os governos progressistas. O regime de concessão das jazidas petrolíferas, altamente danoso aos interesses nacionais, foi substituído pelo de partilha, que permitiria, com o uso do dinheiro na Educação, melhorar as condições de vida da população e garantir um futuro para o Brasil. O número de vagas nas universidades duplicou. Tudo isso com a dívida externa paga e a inflação sob controle. A classe média aumentou, enquanto a pobreza diminuiu. Os programas de inclusão foram objeto de elogios pelos organismos internacionais.


Mas o que pode ser elogiável e positivo para as pessoas cultas e comprometidas com o futuro do Brasil não agrada a todos. Não agrada às “dondocas” que foram às ruas gritar “fora Dilma” porque não queriam dividir “sua” praia com pessoas mais pobres e – por que não dizer? – de pele mais escura. Não agrada aos que vão às ruas pedir “intervenção americana”. Não agrada aos ex-torturadores que, não contentes em ficar impunes de crimes imprescritíveis, ainda encontram alguns saudosistas da ditadura – idiotas ou desinformados – que lhes dão razão. Não agrada aos corruptos que não entendem como a Polícia Federal teve liberdade para agir e descobrir o que todo mundo já sabia das relações espúrias entre alguns políticos e empreiteiras. Não agrada aos canalhas que assumem a ideologia das classes dominantes, na vã esperança de um dia pertencer a elas. Não agrada aos que detestam o Brasil e seu povo.


Nesse “caldo de cultura”, foi relativamente fácil encontrar um juiz parcial que patrocinou vazamentos seletivos e totalmente ilegais de peças processuais, deixou de indiciar políticos dos partidos que estavam comandando a farsa, sob a alegação de que as evidências de crime não diziam respeito à PETROBRAS, objeto das investigações. No entanto, o Vice-Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, apesar de não ter qualquer envolvimento com a PETROBRAS, teve decretada sua prisão, que interessava aos interesses americanos. Ele dirigia a obra do submarino nuclear, posteriormente paralisada. Não foi à toa que o tal juiz fez um treinamento no Departamento de Estado Americano. Ou quem mais teria fornecido tantas informações para os inquéritos em tão curto espaço de tempo?


Essas pessoas aplaudiram a chamada “operação lava-jato” e suas terríveis consequências, cuidadosamente programadas: derrubar um governo constitucionalmente eleito, ainda que através de notícias falsas, atingir a Petrobrás e destruir a Engenharia Nacional. Essa quadrilha encastelada no Judiciário e no Ministério Público, em nome de um “combate à corrupção”, forjaram provas e utilizaram fatos inconsistentes. As “perdas” da Petrobrás foram forjadas por sofisticados recursos contábeis, inclusive impairments, e não por operações ou atividades empresariais. Como consequência, empresas nacionais de Engenharia foram à falência, acabando com a tecnologia desenvolvida em décadas e levando nossos empregos.


A corrupção que seria combatida atingiu níveis absurdos, sendo que apenas em operações de venda de imóveis foram detectados mais de cinquenta, comprados em dinheiro vivo.


Igualmente revoltantes foram as mortes causadas pela deficiência das medidas para combate ao COVID, o que poderia ter reduzido – e muito – as mortes ocorridas.


Além disso, os meios de comunicação a soldo de interesses alienígenas, com seus profissionais despreparados ou também comprometidos, fizeram a festa dos golpistas, convencendo pessoas a ir às ruas se manifestar sem sequer saber porquê.


Temos, agora, a oportunidade de mudar esse quadro, com a eleição de um governo progressista e comprometido com os valores nacionais. Um exemplo a ser seguido, o grande brasileiro Barbosa Lima Sobrinho não abandonou a luta e suas convicções nacionalistas até depois dos cem anos. Resta a esperança de que se materializem suas palavras, ditas do alto de sua simbólica indignação: “A forca para os traidores da Pátria”.


Não podemos ser complacentes com os que reclamam a Liberdade para pregar a ditadura, a tolerância para justificar a intolerância e o direito de expressão para calar os adversários. Os que conduziram o Brasil à situação em que está, pelo entreguismo, pela corrupção e pela negação da soberania devem ser exemplarmente punidos, para que esses fatos não voltem a se repetir.


(*) Guaraci Corrêa Porto é Conselheiro do Clube de Engenharia, do CREA-RJ e Membro da Comissão de Direito Constitucional da OAB-RJ

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