Quanto tempo vive uma árvore, daquelas enormes, dentro da floresta? Quanto tempo vive uma formiga, uma onça-pintada, um jacaré, uma capivara, um tico-tico, beija-flor, quero-quero, anta, abelha, pintassilgo, taturana, buriti, sucuri, boto cor de rosa, gavião, pica-pau, seringueira, figueira, ariranha, garça, pintado, jaboti, pirarucu, mico leão dourado, quaresmeira, joaninha, jatobá, sabiá, mangueira, periquito, samambaia, bagre, pau cedro, piranha, aroeira, tambaqui, tucano, nhambu, caititu, coró-coró, harpia, cascavel, embaúba, bromélia, jaguatirica, urubu, tatu-bola, jacu, joão de barro, tuiuiú, puma, ema, lobo guará, piracanjuba, orquídea, preá, perereca, cutia, macaco prego, borboleta, antúrio, besouro, macaco aranha de cara branca, dourado, copo de leite, patativa, mariposa, castanheira, coruja, morcego, ninfeia azulada, libélula, jasmim, cachorro-vinagre, paineira, tucunaré, jenipapo, babosa, calango, catleia, ipê, maria-sem-vergonha, jaboticabeira, jararaca, bem-te-vi, caramujo, bananeira, piramboia, percevejo, sapo boi, camaleão, cacaueiro, escorpião, arara azul, cobra coral, bicho do pau, peixe-boi, pavãozinho do Pará, sumaúma, bicho-preguiça, cipó, unha de gato, urucu, minhoca, louva-a-deus, tartaruga, gato do mato, grilo, guaraná, arara vermelha, vitória régia, uirapuru, papagaio, andorinha, cigarra, andiroba, tamanduá-bandeira, rolinha-cinzenta, jaú, curimbatá, sanhaço, bico de papagaio, tambaqui, centopeia, poraquê, cigarra, veado, aranha, araponga, ....? Peço emprestada a frase do Chico César e do poeta cearense Bráulio Bessa “se números frios não tocam a gente, espero que nomes consigam tocar”.
Quando uma daquelas árvores enormes é derrubada, quantas vidas são destruídas naquele momento?
É a morte da árvore, é a morte de muitos seres vivos no seu entorno, ou que vivem nela, ou com ela e é o suicídio ambiental da espécie humana. É o processo suicida de pessoas indolentes que não gostam de estudar e nem de trabalhar, pessoas que se apropriam de todas as vidas alheias aos seus alcances para serem destruídas para satisfazer as suas gulas insaciáveis e para mantê-las confortáveis nas suas vidas inúteis e sem sentido.
Floresta não pode ser propriedade privada. A floresta pertence a todos os seres vivos que nela vivem num arranjo natural, desenvolvido ao longo dos incontáveis anos das nossas existências. Pertence, na verdade, a todos os seres vivos do planeta. Todos dependem da sua existência. É a Floresta Amazônica, por exemplo, que garante o regime de chuvas em uma porção enorme do nosso país.
Todos os seres vivos têm o direito de viver.
A lei dos homens, supostamente mais inteligentes que os demais seres vivos, deveria assegurar a proteção e a preservação do meio ambiente, o que asseguraria o direito à vida para todos os seres vivos. Afinal, já que o ser humano é assim tão inteligente, isto não aumentaria a sua responsabilidade pela busca incansável de meios para permitir a evolução e preservação da vida de todos os seres vivos na Terra?
O comportamento da nossa espécie mostra que não há nenhum compromisso ou preocupação com o futuro, é um comportamento imediatista baseado na lei do mais forte, na arrogância do mais esperto, no menosprezo pelos mais fracos ou mais despreparados para enfrentar os aspectos mais comezinhos da vida.
As evidências são óbvias. Vejam o maquinário usado para a derrubada, extração e transporte das árvores derrubadas. Tratores, máquinas, caminhões, barcos, todos de grande porte, portanto, significa grandes investimentos financeiros. Onde estão os donos destes empreendimentos? Estão no meio da floresta, calçando chinelos de dedo, fazendo o serviço sujo, ou no conforto dos seus escritórios e lares em bairros sofisticados das grandes cidades? Enquanto isso acontece, parece que as inúmeras instituições públicas e autoridades, que deveriam zelar pela preservação e proteção do meio ambiente, não estão enxergando nada.
Transcrevo o artigo 225 da nossa Constituição Federal para ilustrar o que eu escrevi sobre a aparente cegueira das nossas autoridades e instituições públicas: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
É preciso parar a devastação. É preciso reconhecer e assegurar o direito à vida de todos os seres vivos. É preciso decretar uma moratória imediatamente, nenhuma árvore a mais derrubada sob nenhum pretexto.
O processo suicida dos indolentes levará à morte de todos os demais seres vivos, de todos, conscientemente ou não, o destino será o mesmo, visto que não haverá um meio ambiente saudável para sustentar a vida, pelo menos da forma como a conhecemos. Isso tem sentido?
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Caro Pedro, parabéns pelo pungente texto. Apenas discordaria da anteposição que você faz entre o Homem (Humanidade, "nossa espécie") e a Vida no planeta. Não é problema da espécie, o problema (e eventual suicídio) está na forma social e econômica sacralizadora do dinheiro e do lucro que a espécie, ao menos por enquanto, resolveu viver. Ou seja, o Capitalismo. Esse é o inimigo a ser batido, não o Homem. Abs.