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Foto do escritorVelfrides Antônio Barreto

ENGENHARIA E POLÍTICA

Atualizado: 12 de nov. de 2021


“Política, uma grandeza pátria!” Ney Alberto Pies


César Cantu e Velfrides Barreto – novembro/2021


Nossa Engenharia não tem a influência política que lhe caberia por sua capacidade de construir soluções para nosso país.


O destino das pessoas, dos países e da civilização dependem de decisões políticas. A ética, a moral e as leis nascem da política e podem ser por ela controladas. Política é poder. Quem se omite da participação, marginaliza-se do poder.


Os poderosos, para manter seus privilégios, desenvolvem uma intensa participação política, de forma estrategicamente organizada e, ao mesmo tempo, induzem a população a se omitir desconstruindo a imagem da política e de todos os seus agentes. Uma sórdida estratégia de dominação.


Através de campanhas sutis nos canais de comunicação da grande mídia e nas redes sociais, oferecem intensa repercussão a eventos negativos que envolvam os políticos e o parlamento. As fake news destroem reputações, desinformam e até matam, como vimos nesta pandemia de Covid 19. Claro que os dominadores procuram valorizar os políticos que defendem suas propostas. A mídia tem lado. Em raras exceções eles citam atos e resultados positivos ou contribuições que a política e seus agentes, os políticos, tenham trazido para a sociedade ou para o país. Induzem a sociedade a confundir política com politicagem.


Existe ainda uma obsessão especial em denunciar e criminalizar os movimentos populares, como aqueles que lutam por moradia, pela reforma agrária, pelos direitos identitários e sociais.


Como complemento a esta estratégia de dominação, estas forças utilizam como critério o método da “campanha de avalanche”, ou seja, fazem uma intensa campanha durante muitas horas do dia, por um período de tempo em todos os veículos de comunicação, de forma a atingir o máximo de pessoas, bombardeando-os com propaganda do mesmo assunto. Vemos isto com mais clareza na época do Natal, do Carnaval, Páscoa etc. e das eleições.


Este método é muito adequado ao consumismo, à alienação e à dominação, porque estas campanhas induzem fortemente os indivíduos a participarem, uma vez que aqueles que não se envolverem, se sentirão “fora do grupo”, isolados do mundo. Ao mesmo tempo, este método da avalanche não permite que a maioria dos indivíduos se comprometa profundamente com os fatos propagandeados, pois em seguida virão novas avalanches sobre outros assuntos.


Se olharmos para grande participação nas eleições e a quase nula participação na política por nosso povo, constataremos que este método tem trazido bons resultados aos dominadores. É fácil verificar como nossos compatriotas, dois ou três meses após as eleições, não mais se lembram em quem votaram.


Os meios de comunicação, em sua grande maioria, atuam de forma organizada em defesa das teses da classe dominante e não permitem o contraponto de opiniões diferentes. Existe liberdade de expressão, mas não de comunicação, uma vez que os canais estão abertos para os poderosos, não para a população.


Podemos exemplificar aqui o caso da reforma da previdência, quando todos os grandes meios de comunicação a defenderam e não houve qualquer oportunidade de apresentação dos pontos de vista que apontavam suas inconsistências, e os prejuízos que ela causará ao povo trabalhador.


Vejamos a situação da Engenharia brasileira. Quando olhamos ao nosso redor, quase tudo o que vemos é Engenharia, na forma de materiais, equipamentos, instrumentos, estruturas, sistemas integrados e processos no âmbito da operação e gestão. Apesar disso, nossa Engenharia não tem o protagonismo nem a influência política que lhe caberiam por sua capacidade de construir, administrar e propor soluções para nosso país.


Vemos profissionais da engenharia também inseridos entre os setores dominados, que, além de sofrerem como indivíduos este condicionamento sobre a sociedade, têm na sua formação currículos exclusivamente técnicos, indutores à construção de um ideário de submissão, de não protagonismo no trabalho e na sociedade. Os profissionais são educados para serem bons executores e obedecerem às ordens, como bons soldados num campo de batalha.


A Engenharia não participa da política, ou melhor, é submissa às decisões estratégicas e, por isso, está marginalizada do processo decisório. Ela é indispensável em quase tudo, mas não decide nada. Quando decide, é como serviçal requisitada para assuntos especializados que balizarão decisões que outros tomarão. Além disso, em sua maioria, a parcela da engenharia que participa do poder, através dos conselhos profissionais, das direções de empresas ou de cargos eletivos, não olha para o todo, apenas para seus interesses individuais e corporativos.


Muitos profissionais seguem espontaneamente a tendência da maioria e adotam os modelos de comportamento de nossa sociedade, tendo unicamente como objetivos: ganhar dinheiro, subir na vida, pensar apenas em si mesmo, ser competitivo; preocupar-se com a sociedade ou o país, não lhes importa.


Até hoje, nunca houve um movimento em nossa sociedade chamando a atenção dos estudantes e dos profissionais, para a necessidade de se perguntar: para quem está servindo nossa engenharia? Quais modelos de projetos estão sendo adotados?


É estratégico para a EngD criar um modelo de participação política da engenharia e lutar por sua implementação.


Iniciativas locais como a da UFRJ, que estuda inserir nos currículos dos cursos de engenharia a disciplina “Engenharias Brasileiras”, são muito bem-vindas, pois são necessárias ações com o objetivo de mudar esta cultura limitadora de nossos profissionais. Contudo, é a estrutura do Estado que permite este tipo de educação e de formação profissional no Brasil. Por isto precisamos também, propor medidas nacionais de políticas públicas com o objetivo de inserir a engenharia entre os propositores dos rumos de nosso país.


Devemos perseguir dois objetivos de curto prazo, que servirão de veículo para nossas ações:

- participar na elaboração de políticas públicas de Estado e,

- participar na criação de um modelo de Gestão de Estado.

Um grande desafio nos espera, sem politicagem, sem partidarismo, rumo à evolução civilizatória.

Venha conosco mudar este jogo.




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4 Comments


Prezado Bento, obrigado por seus comentários.

Concordo com alguns pontos do seu comentário, mas discordo de alguns. Não acho que seja natural que os engenheiros não atuem na Política, como se o seu DNA não permitisse este comportamento, ou como se fôssemos separados em castas. Vemos na história que as pessoas podem ser multivalentes, músicos e pedreiros, médicos e artistas etc. Vide Leonardo da Vinci, João do Vale, Lula, etc.

Não é por alguém não ter o dom para a sensibilidade social que devemos aceitar que este alguém seja um bruto. Creio que nossa sociedade capitalista e indutora do consumismo, procura moldar as pessoas desde jovens a pensarem assim: isto eu posso e isto eu não posso ser ou fazer.…

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Pedro, Barreto e Cantu:


Em que pese eu concordar com a visão apresentada no artigo de vocês, penso que precisamos aprofundar o assunto.


Existe uma profunda diferença e natureza das profissões, e cada pessoa, ao escolher uma profissão, tem um viés, um dom, um anseio, que a identifica com os profissionais daquela profissão. Um profissional operador do direito trata o tempo todo do que é "Justo", quem tem razão em seus atos segundo aquele padrão de justiça. O tempo todo esse profissional defende seus clientes se for advogado, acusa pessoas levadas à justiça pela policia, desde que a justiça ache que isso pode ser aceito, e julga, se for um juiz.


Como vemos, a matéria que trata um operador dos…


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Parabéns pelo artigo. A ausência da Engenharia nos processos decisórios no nosso país pode ser contrastada com os profissionais do Direito que são detentores exclusivos de um dos 3 Poderes da República. Eu acho que isto não é bom e precisaremos aumentar a participação da Engenharia nos processos decisórios. Além disso, de alguma maneira, precisaremos procurar conter os excessos do Poder Judiciário, como, por exemplo, cargos de exercício real e pleno do poder, praticamente vitalícios e seus detentores não dão satisfação a ninguém. Nenhuma categoria profissional, muito menos, ninguém tem todas as respostas para todos os aspectos da organização de um país e da formação de uma Nação.

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Miguel Manso
Miguel Manso
Nov 12, 2021

Muito bom o artigo.

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