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O ESTADO, O DESENVOLVIMENTO NACIONAL E O PAPEL CENTRAL DA ENGENHARIA NACIONAL EM POLÍTICAS DE INOVAÇÃO, T&I E P&D PARA EMPRESAS GENUINAMENTE NACIONAIS

Eng. Celso Soares


RUMO À Iª CONFERÊNCIA NACIONAL DA ENGENHARIA
RUMO À Iª CONFERÊNCIA NACIONAL DA ENGENHARIA

Apresentação


Este artigo procura esclarecer, dentre outros, os seguintes aspectos relativos às Empresas Genuinamente Nacionais e à Engenharia:


I.              Como a Empresa Genuinamente Nacional - EGN pode e deve contribuir para a inovação e o desenvolvimento em parceria entre o Estado e as EGN.

 

II.            Como a participação sem regras definidas de empresas multinacionais no Brasil sangram nosso desenvolvimento à medida que elas inclusive se valem de dinheiro do BNDES para sua atividade em solo brasileiro, tanto na indústria como na construção civil e em pesquisas.

 

III.           O papel central da Engenharia Nacional para o Desenvolvimento do Brasil, em políticas de Inovação, T&I e P&D e sua simbiose com as Empresas Genuinamente Nacionais - EGN.

 

IV.          Como o Estado pode e deve fazer, para que a Juventude volte a se interessar pelos cursos de Engenharia no Brasil.


Esta é uma questão central para o desenvolvimento econômico do Brasil. O papel do Estado como indutor do desenvolvimento, apoiando especificamente as Empresas Genuinamente Nacionais (EGN), pode ser exercido através de um conjunto de políticas públicas integradas, conforme demonstra a literatura econômica e por experiências nacionais e internacionais.


 

I - O conceito de empresas Genuinamente Nacionais (EGN)


Antes de tudo, é importante definir EGN. Geralmente são compreendidas como empresas:

·         Controladas por capital nacional: A maioria do capital votante e não votante pertence a residentes no Brasil.

·         Com centro de decisão no país: A estratégia, P&D e as decisões de investimentos são tomadas em território nacional.

·         Com alta intensidade de linkages domésticos: Possuem cadeias de fornecedores majoritariamente locais, gerando um efeito multiplicador na economia nacional.

 

Estratégias para o Estado Indutor do Desenvolvimento

O apoio do Estado deve ser multifacetado, indo muito além do protecionismo, focando em criar capacidades competitivas.

1.    Política de Compras Governamentais (Compras Públicas)


É uma das ferramentas mais poderosas e diretas. O Estado, como maior comprador da economia, pode direcionar suas demandas para as EGN.

·         Como fazer: Estabelecer margens de preferência em licitações para produtos e serviços nacionais, priorizando empresas que desenvolvam tecnologia local e tenham alto conteúdo nacional.

·         Fonte: A Lei nº 12.349/2010 alterou a Lei de Licitações (Lei 8.666/1993), para instituir “preferência para bens e serviço nacionais e desenvolvidos no país”. O BNDES também possui regras de conteúdo local para financiamentos.

·         Exemplo prático: O Programa Inova Empresa (extinto, mas com lógica similar em editais setoriais) e as compras da Petrobrás e da Eletrobrás, que em certos editais exigiam percentuais de nacionalização.

 

2.    Política de Conteúdo Local e Desenvolvimento de Fornecedores


Vincular incentivos e contratos (especialmente em setores estratégicos como óleo e gás, defesa e energia) ao desenvolvimento de fornecedores nacionais.

·         Como fazer: Estabelecer metas progressivas de conteúdo local para projetos de grande escala. Criar programas que liguem grandes empresas (mesmo multinacionais) a pequenos e médios fornecedores nacionais, com o Estado facilitando essa conexão.

·         Fonte: Os chamados Programas de Mobilização da Indústria Nacional de Defesa (PROMINDefesa) e as políticas de conteúdo local nos leilões de petróleo da ANP, amplamente estudadas por instituições como o IE/UFRJ (Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e o IBRE/FGV.

·         Exemplo prático: As políticas de conteúdo local nos contratos de partilha de produção de petróleo na camada pré-sal, que impulsionaram a cadeia naval e offshore no Brasil.

 

3.    Acesso a Crédito e Capital de longo prazo


EGN, especialmente em estágio de scale-up, frequentemente enfrentam dificuldades para acessar capital paciente para investimentos em P&D e expansão.

·         Como fazer: O Estado pode direcionar bancos públicos (especialmente o BNDES) para oferecer linhas de crédito com juros diferenciados, prazos alongados e critérios que valorizem o caráter nacional e a geração de emprego e tecnologia no país.

·         Fonte: o próprio BNDES é a principal fonte. Seus programas setoriais (como o BNDES Finan) e de inovação são fundamentais. Estudos do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada) frequentemente avaliam o impacto do crédito do BNDES na produtividade de empresas brasileiras.

 

4.    Política de Inovação e P&D


Apoio direto à inovação dentro das EGN, crucial para que elas saiam da posição de seguidores para líderes tecnológicas.

·         Como fazer: Subsídios fiscais (como a Lei do Bem – Lei nº 11.196/2005), editais de subvenção econômica para projetos P&D, e a criação de ambientes de inovação que conectem universidades, institutos de pesquisa (como Embrapa, um caso de sucesso) e empresas.

·         Fonte: A Lei do Bem e a Lei de Informática são instrumentos legais. Pesquisadores da UNICAMP e da USP (e.g., Grupo de Análise de Inovações e Estratégia – GAPIE/USP) publicam extensivamente sobre eficácia dessas políticas.

 

5.    Política Industrial e de Desenvolvimento Regional


Um planejamento estratégico que identifique setores onde o Brasil possui vantagens comparativas dinâmicas ou que são estratégicos para a soberania nacional (saúde, defesa, energia, agroindústria).

·         Como fazer: Formular políticas industriais modernas, não baseadas em proteção pura, mas em contrapartidas de investimentos, produtividade e exportação. Criar parques tecnológicos e distritos industriais para aglomerar EGN e sinergias.

·         Fonte: A experiência da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) na formulação de políticas setoriais. Academicamente, os trabalhos de José Eduardo Cassiolato e Maria Clara Couto Soares do INCT/PPED (Instituto de Economia da UFRJ) são referência na discussão sobre sistemas de inovação e política industrial no Brasil.

·          

6.    Apoio a Internacionalização


Ajudar EGN competitivas a conquistarem mercados externos, aumentando sua escala e robustez.

·         Como fazer: Apoio da ApexBrasil em feiras internacionais, missões comerciais, inteligência de mercado e promoção de marca país. Financiamento competitivo para exportação via bancos oficiais.

·         Fonte: A atuação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) é documentada em seus próprios relatórios de impacto e estudos encomendados a centros de pesquisa.

 

7.    Marco Regulatório Favorável


Simplificar a burocracia para abrir e operar empresas, reduzir o “Custo Brasil” e criar um ambiente de negócios previsível e estável, o que beneficia todas as empresas, mas é crucial para EGN com menos recursos para lidar com a complexidade.

·         Como fazer: Reformas tributária, administrativa e a lei de liberdade econômica (Lei nº 13.874/2019) são passos nessa direção.

·         Fonte: Estudos do World Bank (Doing Business, substituído pelo “Business Ready”) e do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV) que mensuram o custo Brasil.

 

Conclusão


O Estado Brasileiro pode e deve ser um indutor estratégico do desenvolvimento nacional apoiando ENG. Isso não significa um retorno ao protecionismo ineficiente, mas sim a adoção de políticas modernas, inteligentes e orientadas por resultados, que:

·         Corrijam falhas de mercado (como aversão ao risco de longo prazo do setor privado);

·         Criem vantagens comparativas dinâmicas por meio da inovação;

·         Explorem sinergias entre compras governamentais, financiamento, P&D e política industrial;

·         Preparar a EGN para competirem globalmente e não apenas as protejam no mercado doméstico.


 

II – A Participação de Empresas Estrangeiras no Brasil


A experiência internacional (e.g., Alemanha, Coreia do Sul, China) e a história econômica brasileira mostram que o desenvolvimento bem-sucedido raramente ocorre sem uma ação estatal coordenada e estratégica ao lado do setor privado nacional.


Esta é uma percepção crítica e complexa sobre o modelo de desenvolvimento brasileiro, e ela encontra eco em várias correntes da economia política e em estudos de caso. A ideia de que a participação de multinacionais pode, sob certas condições, “sangrar” o desenvolvimento é analisado sob o conceito “Paradoxo do Investimento Externo”.


Vamos destrinchar como isso pode acontecer e o papel controverso do BNDES, sempre citando fontes e exemplos.

 

1.    A Fuga de Capitais e a Repatriação de Lucros

·         Como funciona: A empresa se instala no Brasil, gera lucros e, periodicamente, repatria esses lucros para sua matriz no exterior. Isso cria um fluxo financeiro de saída constante na Balança de Pagamentos.

·         Dados e fontes: O Banco Central do Brasil monitora esses dados. Historicamente, a conta de “Rendas de Investimentos” (onde se registram a remessa de lucros e dividendos) é estruturalmente deficitária. Em muitos anos, o valor saído do país em lucros e dividendos é maior que o valor que entrou como Investimento Estrangeiro Direto (IED).

·         Fonte: Banco Central do Brasil – Balança Pagamento e Posição Internacional de Investimentos (PII). Estudos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) frequentemente analisam esse paradoxo, onde a entrada de investimento é seguida por saídas maiores de rendas no longo prazo.

 

2.    O Endividamento Externo e a “Bitributação” do BNDES

·         Como funciona: Muitas multinacionais operam no Brasil com capital próprio baixo. Elas se capitalizam através de empréstimos de suas próprias matrizes no exterior (o que é considerado Investimento Estrangeiro Direto – IED). Esse empréstimo gera uma dívida para a subsidiária brasileira. Os juros sobre essa dívida são dedutíveis do imposto de renda da Empresa no Brasil (reduzindo a tributação aqui) e são remetidos como despesa financeira para a matriz, onde são tributados de forma mais branda. É uma prática de planejamento tributário internacional conhecida como “thin capitalization” (capitalização fina).

·         O papel do BNDES: Quando o BNDES empresta para uma multinacional, ele está fornecendo capital de longo prazo a juros subsidiados (como TJLP ou TLP) para uma empresa que, muitas vezes, tem acesso a fontes de financiamento globais. Isso é uma transferência de subsídio público para acionistas estrangeiros. O lucro dos projetos financiados pelo BNDES, após um tempo, será repatriado, mas o empréstimo subsidiado foi pago pelos contribuintes brasileiros.

·         Fonte: O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, uma voz crítica sobre esse modelo. Ele argumenta, em obras como “Globalização e Competição”, que o Brasil sofre uma “quase-estagnação” porque não consegue reter internamente os frutos do seu crescimento, que são drenados para o exterior por meio da remessa de lucros. Pesquisadores do IE/UFRJ (Instituto de Economia) também publicam sobre os efeitos da repatriação de lucros.

 

3.    A Destruição de Marcas e Capacidades Nacionais (Aquisições Hostis)


Multinacionais não entram no Brasil apenas organicamente, muitas vezes entram adquirindo empresas nacionais bem-sucedidas.

·         Como funciona: Uma EGN (Empresa Genuinamente Nacional) desenvolve uma tecnologia, uma marca forte e uma cadeia de fornecedores. Uma multinacional a adquire. O que frequentemente acontece?

1.    A marca nacional é extinta e substituída pela marca global.

2.    O centro P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) é transferido para a matriz no exterior. O Brasil perde a capacidade de decisão estratégica e de inovação.

3.    A cadeia de fornecedores é globalizada. A multinacional tende a usar seus fornecedores globais, rompendo linkages com a indústria nacional e reduzindo o efeito multiplicador local.

·         Fonte: Este é um fenômeno amplamente documentado na literatura de negócios internacionais. No Brasil, casos como a aquisição da Havaianas pelo grupo J&F (embora não seja multinacional estrangeira, ilustra o risco para a identidade da marca) e de diversas cervejarias regionais pela Ambev (que depois foi adquirida pela belgo-brasileira Inbev) são exemplos. A extinção de marcas como a Kibon (substituída pela Unilever) e a Lojas Americanas (adquirida por fundos de private equity) segue uma lógica similar.

 

4.    A Construção Civil e os “Campeões Nacionais”


O caso da construção civil no período dos “campeões nacionais” (2000-2014) é um exemplo paradoxal e trágico.

·         Como funcionou: O BNDES (por meio do seu braço de participações, o BNDESpar) injetou bilhões para criar conglomerados nacionais (como Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa) que pudessem competir globalmente.

·         O Problema: Essas empresas se endividaram massivamente. Para obter contratos no exterior e no Brasil elas se envolveram em esquemas de corrupção, que inflavam desnecessariamente seus os custos. O dinheiro do BNDES e dos fundos de pensão (como da Petrobrás) foi, em parte, desviado. O modelo faliu, deixando um rastro de dívidas, desemprego e destruição de valor. Nesse caso, a “sangria” não foi para o exterior de forma direta, mas foi uma drenagem de recursos públicos para um grupo específico de forma não sustentável e, muitas vezes, ilegal.

·         Fonte: A Operação Lava Jato e os inúmeros livros e reportagens investigativas sobre o caso documentam detalhadamente esse processo. O relatório da CPI da Lava Jato no Senado Federal é uma fonte primária. “Os Crimes do Cartel do Bilhão contra o Brasil”, o esquema que assaltou a Petrobras de Carlos Lopes – Fundação Cláudio Campos 2016; “Arapuca Estadunidense – Uma Lava Jato Mundial”, Frédéric Pierruci e Matthieu Aron.

 

Conclusão: Um modelo que Precisa ser reavaliado

 

A percepção de sangria se sustenta em evidências quando o modelo de inserção internacional do Brasil é passivo e não seletivo. O problema não é a multinacional em si, mas a ausência de uma estratégia clara e de contrapartidas exigidas pelo Estado Brasileiro.

 

Um modelo desenvolvimentista moderno e inteligente para lidar com o capital estrangeiro deveria:

1.    Exigir contrapartidas claras: Linkages com fornecedores locais, metas de conteúdo nacional, manutenção de centros de P&D no Brasil e formação de pessoal técnico.

2.    Repensar o Papel do BNDES: Focar o crédito subsidiado quase que exclusivamente em EGN de alto poder potencial inovador e em pequenas e médias empresas, em vez de grandes multinacionais consolidadas.

3.    Fortalecer a Defesa da Concorrência: Impedir aquisições hostis que destruam capacidades tecnológicas nacionais críticas e levem a oligopólio.

4.    Reformar o Sistema Tributário: Combater práticas de evasão e elisão fiscal agressiva, como o “thin capitalization” e a transferência de preços (transfer pricing).

A experiência internacional (de países como a Coreia do Sul e China) mostra que o sucesso veio de imposições de regras duras para o capital estrangeiro, obrigando-o a se alinhar com os objetivos nacionais de desenvolvimento, e não da submissão a um suposto “livre mercado” que, na prática, pode e de fato drena a riqueza nacional.


 

III – O papel da Engenharia Nacional para o Desenvolvimento do Brasil


O tema, toca no cerne do desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil. A relação entre Engenharia Nacional, políticas de Tecnologia, Inovação e P&D e as Empresas Genuinamente Nacionais (EGN) é simbiótica e crítica para a soberania e a competitividade do país.


Vamos decompor o papel de cada um e como se inter-relacionam.


1.    O Papel da Engenharia Nacional nas Políticas de T&I e P&D


A Engenharia Nacional não é apenas uma profissão, mas um ecossistema de conhecimento aplicado. Seu papel vai muito além de “projetar e construir”.

·         Tradução de Ciência em Tecnologia: A Engenharia é a ponte entre a descoberta científica (feita em universidades e institutos de pesquisa) e a inovação em produtos, processos e serviços. Políticas de P&D que não envolvam engenheiros no estágio de desenvolvimento correm o risco de gerar “papéis científicos” que nunca se tornam realidade econômica.

·         Desenvolvimento de Soluções para Problemas Nacionais: A Engenharia Nacional é essencial para adaptar tecnologias globais e criar soluções específicas para os desafios brasileiros. Exemplos clássicos incluem:

+ Agronegócio: Desenvolvimento de máquinas agrícolas para o plantio direto e colheita em terrenos acidentados e desenvolvimento de processos de plantação e qualificação das diversas culturas, melhorando seu desempenho.

+ Energia: Domínio do ciclo completo do pré-sal (da prospecção ao refino) e a criação da tecnologia do etanol de cana-de-açúcar.

+ Saúde Pública: Desenvolvimento de equipamentos médicos e de diagnóstico de baixo custo para o SUS.

+ Defesa: Capacidade de projetar e construir equipamentos modernos de defesa para dissuasão em terra, mar e ar.

·         Capacitação para a Absorção e Adaptação Tecnológica: Ter uma base de engenharia sólida permite que o país não seja um mero importador passivo de tecnologia. Engenheiros nacionais são capazes de instalar, operar, manter e, principalmente, melhorar tecnologias estrangeiras, criando círculo virtuosos de aprendizado.

·         Garantia de Soberania Nacional: Em setores estratégicos como Defesa, Energia, Espaço (Programa Espacial Brasileiro) e Comunicações, a dependência de tecnologia estrangeira é um risco a segurança nacional. A Engenharia Nacional assegura que o país tenha controle sobre tecnologia críticas.

 

2.    A Relação com as Empresas Genuinamente Nacionais (EGN)

 

As EGN são o principal veículo pelo qual a Engenharia Nacional se materializa no mercado e gera valor econômico. A relação é de dependência mútua.


Para as EGN, Engenharia Nacional é vital porque:

·         É uma Fonte Central de Vantagens Competitiva: Em um mercado globalizado, competir apenas por preço é uma estratégia frágil. A capacidade de inovar, customizar produtos e resolver problemas específicos de clientes locais e internacionais é o que diferencia uma EGN. Essa capacidade é alimentada diretamente pela sua equipe de engenharia.

·         Permite a Apropriação de Propriedade Intelectual (PI): Diferente de uma filial que importa projetos da matriz, uma EGN que investe em P&D gera Patentes, Desenhos Industriais e Know-how que são ativos da empresa e do país. Isso gera receita de royalties e posiciona a empresa na vanguarda tecnológica.

·         Facilita o Acesso a Políticas Públicas de Fomento: Muitos editais de subvenção, financiamento (ex.: Finep, BNDES) e benefícios fiscais (ex.: Lei do Bem) exigem contrapartidas em capacitação tecnológica e projetos de P&D. Uma EGN com corpo de engenheiros robusto está muito melhor posicionada para acessar esses recursos.

·         Cria Resiliência em Crises Globais: Durante crises na cadeia de suprimentos (como visto na pandemia), uma EGN com capacidade de engenharia pode redesenhar componentes, buscar fornecedores alternativos ou até mesmo desenvolver soluções substitutas, reduzindo a dependência de importações.

 

Por outro lado, as EGN são importantes para a Engenharia Nacional porque:

·         Oferecem Mercado de Trabalho Qualificado: São as EGN que, em muitos casos, oferecem os empregos mais desafiadores e intelectualmente gratificantes para engenheiros, pois envolvem criação e não apenas operação.

·         Demandam e Financiam P&D: Elas são as principais demandantes e financiadoras de projetos P&D aplicado, criando um ciclo virtuoso que retroalimenta a capacitação da engenharia.

·         Retêm Talentos no País: EGN de sucesso criam polos de atração que impedem a “fuga de cérebros”, oferecendo carreiras promissoras para os melhores engenheiros dentro do Brasil.

 

 

3.    A Importância das Políticas Públicas como Conector

 

As políticas de T&I e P&D são o conector estratégico que potencializa essa relação.


Elas devem:

1.    Criar Demanda Estruturada: O Estado, como grande comprador (Compras Governamentais), pode priorizar soluções nacionais em setores como defesa, saúde, infraestrutura e energia. Isso cria mercado cativo e previsível para as EGN, incentivando-as a Investir em P&D. O programa Inova Empresa e as Encomendas Tecnológicas das Forças Armadas são exemplos.

2.    Oferecer Financiamento e Incentivos Fiscais: Instrumentos como a Lei do Bem (que concede deduções fiscais para investimentos em P&D) e linhas de crédito da Finep e BNDES são cruciais para reduzir o risco do investimento privado em inovação, que é naturalmente alto.

3.    Fomentar a Articulação Público-Privada: Promover a interação entre universidades (com seus laboratórios e pesquisadores) e as EGN (com seus desafios de mercado) por meio de Institutos de Ciência e Tecnologia (ICT) e Parques Tecnológicos.

4.    Focar em Cadeias Estratégicas: Em vez de tentar ser líder em tudo, as políticas devem identificar cadeias onde o Brasil já tem vantagens comparativas (como o agronegócio, energia renovável, mineração) e fortalecer a engenharia e as EGN nestes setores.

 

Conclusão

 

A Engenharia Nacional é o braço executor que transforma conhecimento em riqueza e soberania. As Empresas Genuinamente Nacionais são o veículo que leva essa capacidade técnica para o mercado, gerando emprego, divisas e desenvolvimento. As Políticas de Tecnologia, Inovação e P&D são o mecanismo inteligente do Estado para alinhar esses dois agentes, criando um ambiente onde a capacitação técnica nacional se traduz em produtos e serviços competitivos que resolvem problemas brasileiros e conquistam o mundo.

 

Sem uma política de Estado de longo prazo que entenda e fortaleça essa tríade, o Brasil continuará refém de um modelo baseado na exportação de commodities e na importação de tecnologia de alto valor agregado, perpetuando sua posição periférica na economia global do conhecimento.


 

IV - A Juventude e a Engenharia


O declínio no interesse pelos cursos de Engenharia no Brasil é um problema complexo, mas crítico para o futuro do desenvolvimento nacional. Reverter essa tendência exige uma ação coordenada e multifacetada do Estado, atuando como indutor, facilitador e comunicador.


Aqui estão as principais ações que o Estado pode e deve implementar.

1.    Reposicionar a Imagem e o Valor da Engenharia (Campanhas de Comunicação)

+ Narrativa de Impacto: O Estado, em parceria com entidades de classe (como o CREA, Sindicatos e Associações de Engenharia diversas) e universidades, deve liderar campanhas nacionais que mostrem a Engenharia como uma carreira de impacto. Em vez de focar apenas em cálculos, é preciso destacar que o engenheiro é quem “resolve os grandes problemas do país”: desde a criação de energias limpas e o saneamento básico até a inovação no agronegócio e a exploração espacial.

+ Modelos e Exemplos: Utilizar casos de sucesso de Engenheiros brasileiros em projetos nacionais (Pré-Sal, Embraer, Embrapa, startups de sucesso) como embaixadores da carreira, mostrando trajetórias inspiradoras e tangíveis.


2.    Melhorar a Educação Básica (Raiz do Problema)

+ Fortificar o Ensino de Ciências e Matemática: Investir na capacitação e valorização de professores de Matemática, Física e Química. Isso inclui melhores salários, formação continuada e fornecer material didático de qualidade.

+ Metodologias Ativas: Introduzir na grade curricular, desde o ensino fundamental, disciplinas ou oficinas de robótica, programação e metodologias de projeto (STEM/STEMA). Isso torna o aprendizado concreto, mão na massa e divertido, despertando o interesse pela engenharia de forma natural.

+ Mostrar a Aplicação Prática: Promover visitas de estudantes a empresas, obras e laboratórios de universidades, criando uma ponte entre a teoria da sala de aula e a prática de engenharia.


3.    Acesso e Permanência no Ensino Superior

+ Expansão de Bolsas e Financiamento: Fortalecer programas como FIES e Prouni, com foco em cursos estratégicos como as engenharias. Criar linhas de crédito específicas e com juros baixos para esses cursos.

+ Apoio a Permanência: A evasão nos primeiros anos de Engenharia é altíssima, muitas vezes pela dificuldade em disciplinas básicas. O Estado pode fomentar programas de monitoria e tutoria nas universidades públicas e privadas, com bolsas para alunos monitores, criando uma rede de apoio.

+ Incentivo a Cursos Técnicos: Valorizar e articular o ensino técnico profissionalizante como uma porta de entrada para a engenharia, mostrando que é uma trajetória válida e vantajosa.

4.    Criar Perspectivas de Mercado Atraentes

Esta é, talvez, a ação mais crucial. De nada adianta formar engenheiros se não houver mercado que os absorva e valoriza.

+ Política Industrial e de Inovação Estruturada: Como dito anteriormente, o Estado deve criar uma demanda consistente por Engenharia Nacional. Isso se faz:

+ Compras Governamentais: Priorizar empresas nacionais em licitações de infraestrutura, defesa, energia e saúde, o que gera empregos para engenheiros.

+ Incentivo a setores estratégicos: Fomentar ativamente cadeias como a de tecnologia verde, energias renováveis, mobilidade elétrica, defesa, aeroespacial e bioeconomia. Estes setores são intensivos em engenharia e representam o futuro.

+ Fortalecimento das EGNs: Apoiar as Empresas Genuinamente Nacionais, que são grandes empregadoras de engenheiros e investem em P&D local.

+ Marco Legal da Inovação: Continuar aprimorando leis que facilitem a cooperação entre universidades e empresas, criando estágios, projetos de pesquisa aplicada e oportunidades de empreendedorismo tecnológico para estudantes de engenharia.


5.    Valorização Profissional e Regulamentação

+ Piso Salarial e Planos de Carreira: Fiscalizar e fazer cumprir o piso salarial da categoria. Além disso, o Estado, como empregador (em estatais, órgãos públicos, administrações públicas federal, estaduais, municipais e Forças Armadas), deve oferecer planos de carreiras atraentes que valorizem a expertise técnica.

+ Regulamentação Moderna: Atualizar a legislação profissional (por meio do sistema CONFEA/CREA) para acompanhar as novas demandas do mercado, como a Engenharia de Software, Inteligência Artificial e outras áreas de fronteira, garantindo que esses profissionais se sintam parte do ecossistema da engenharia.

6.    Exemplo Prático e de Curto Prazo: “Programa Nacional de Engenheiros”

O Estado poderia lançar um programa com esse nome, integrando várias frentes:

+ Bolsa Engenharia: Conceder bolsas de estudo integrais para cursos de Engenharia em troca de um período de trabalho em projetos de interesse nacional (ex.: obras de infraestrutura em regiões carentes, pesquisa em institutos públicos).

+ Estágio Obrigatório Remunerado: Criar uma lei que incentive e facilite a contratação de estagiários de Engenharia em obras e projetos financiados com recursos públicos.

+ Feiras Nacionais de Oportunidades: Promover grandes feiras de recrutamento conectando estudantes de Engenharia e EGN, estatais e multinacionais que investem em P&D no Brasil.

 

Conclusão

 

Para que a juventude volte a se interessar pela Engenharia, o Estado precisa ir além de campanhas publicitárias. É necessário resgatar o Projeto Nacional de Desenvolvimento, no qual a Engenharia é percebida como a peça Central e valorizada. O jovem precisa enxergar na Engenharia não apenas um curso difícil, mas uma carreira com propósito, impacto social, estabilidade financeira e a oportunidade de construir o futuro do Brasil. Quando o Estado sinaliza, com políticas concretas, que há um mercado aquecido e um país sendo construído, o interesse da juventude será uma consequência natural.

 

      

SEM ENGENHARIA NÃO HÁ DESENVOLVIMENTO E NÃO HÁ DESENVOLVIMENTO SEM ENGENHARIA


Bertioga, SP, Brasil em 1 de Novembro de 2025

 

 

 

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Engº Celso Soares

 

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP 1977

 

Diretor de Controle e Finanças da EngD - Engenharia pela Democracia


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