Cládice Nóbile Diniz

Neste 26 de janeiro de 2025, os domingueiros frequentadores do espaço de lazer carioca do Palácio do Catete, se viram agraciados com uma flamejante instalação do Museu da República em vermelho vivo com a inscrição “Nunca Mais”. A belíssima instalação trata, no entanto, da horrível história do prédio Palácio da Polícia, onde funcionou o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) do Estado da Guanabara durante a ditadura de 1964 e que, anteriormente, foi ocupado por outros órgãos também de coerção e repressão da sociedade, conforme se aprende na exposição “Rua da Relação, 40: Testemunho material da violência de Estado”, que é nela apresentada.
Essa mostra foi realizada pelo Coletivo RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação e pela Campanha Ocupa DOPS, recebeu imediata atenção do público presente nos jardins, pois ocorre em um momento em que o filme "Ainda Estou Aqui" recebe três indicações para o Oscar[1], destacando o tema dos mortos e desaparecidos, vítimas da ditadura. Nesse clima, a Engenharia pela Democracia traz ao seu público uma mensagem de João Francisco Rubens Paiva, neto do Engenheiro Civil Rubens Beyrodt Paiva[2] que, entre 20 e 22 de janeiro de 1971 foi assassinado por agentes da ditadura de 1964, quando exercia seu mandato de deputado federal. Os engenheiros, agrônomos, arquitetos, médicos veterinários e químicos devem à inspiração dele o Salário Mínimo Profissional (SMP), proposta de lei que apresentou e não pode levar adiante devido à sua cassação em 1964, e que foi concretizada pelo então deputado federal Almino Affonso[3], em 22 de abril de 1966, com a promulgação da Lei n. 4.950-A.
A exposição, que foi financiada por emenda parlamentar da Mandata da Deputada Estadual Dani Balbi (PCdoB-RJ), ficará no local até 4 de fevereiro e busca divulgar e esclarecer a campanha pela transformação do prédio em um Espaço de Memória dos Direitos Humanos, buscando o entendimento de todos e especialmente daqueles que disputam o local para ser ocupado por museu da polícia.
Na exposição se aprende que o prédio, atualmente sem uso pela Secretaria de Polícia Civil devido ao seu mau estado de conservação, foi construído no início do século passado, tendo sido ocupado por instituições policiais que, em cada época, se ocuparam da coerção às pessoas conforme ideias vigentes no Estado, apresentando didaticamente estruturada em dimensões, como repressão religiosa aos templos de matriz africana; repressão à autodeterminação do próprio corpo, com perseguição às pessoas trans; a repressão aos negros e sua cultura, dita repressão à vadiagem, em suas rodas de samba e bailes; e a repressão política.
Outra presença na mostra que a Engenharia pela Democracia destaca é a de um dos seus três curadores, o arquiteto Felipe Nin, sobrinho do engenheiro mecânico com especialização em engenharia de produção Raul Amaro Nin Ferreira, que trabalhava no Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), no Ministério da Indústria e Comércio, quando foi assassinado entre os dias 11 e 12 de agosto de 1971, por tortura, por agentes da repressão[4].
O arquiteto Felipe Nin fez um convite para os participantes da Engenharia pela Democracia visitarem a exposição.
Compondo o evento, duas mesas debatem sobre exposição, uma de “abertura”, em dia 29 de janeiro, às 15h, apresenta aa história do prédio.

No dia 4 de fevereiro, no mesmo horário das 15horas, que tratará das lutas para a construção de um Museu dos Direitos Humanos no local.
A exposição é um evento que reforça a importância de se estar sempre atento para que a democracia se mantenha e aperfeiçoe, revelando a importância da existência de entidades como a Engenharia pela Democracia.
[1] https://sengerj.org.br/com-ainda-estou-aqui-historia-do-engenheiro-e-parlamentar-rubens-paiva-chega-ao-oscar/
[3] https://sengese.org.br/conteudo/982/conheca-a-trajetoria-de-almino-affonso-autor-da-lei-do-salario-minimo-profissional-da-engenharia
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