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Foto do escritorMiguel Manso

O “medo do crescimento” para manter a subordinação aos interesses dos bancos





Por Miguel Manso


A divulgação recente do IBC-Br pelo Banco Central apontando uma alta de 0,8% em setembro em relação a agosto, acumulando 2,97% nos últimos 12 meses, está sendo usada para exagerar uma economia brasileira “super aquecida”, com projeções de crescimento do PIB próximas de 3% para 2024. O boletim alardeia ainda um cenário de expansão também reforçado pelo aumento de 1,12% no terceiro trimestre em comparação com o segundo, acompanhado de “altas históricas” em indicadores como a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). No entanto, é fundamental desmistificar essa “forte expansão” e refletir sobre o contexto macroeconômico global e as peculiaridades do Brasil em relação a outras economias do G20.


Comparando o Brasil com o G20


Apesar da alardeada "forte expansão”, a trajetória de crescimento brasileiro continua tímida quando comparada com outras economias emergentes e até com países do G20. 


Enquanto o Brasil apresenta uma perspectiva de crescimento próxima a 3%, várias economias emergentes do grupo mantêm taxas de crescimento entre 4% e 6%, especialmente aquelas com políticas de estímulo interno mais robustas e menos focadas em ajustamentos fiscais. 


O crescimento brasileiro, embora positivo, está ancorado em aumentos pontuais de consumo e investimentos. Com mercado interno arrochado, crédito caro, famílias endividadas e salários baixos, a economia segue vulnerável a pressões e choques externos, com limitação estrutural de uma economia que permanece dependente da exportação de commodities e sujeita à valorização especulativa do dólar.


Pressão Inflacionária e o Ajuste Fiscal


Essa expansão tímida do PIB, acompanhada de uma economia vulnerável e um mercado interno arrochado, segue refém das pressões do sistema financeiro, algo destacado no debate do G20 ao buscar a taxação das grandes fortunas e dos mega ricos para combater a fome e a miséria de centenas de milhões de seres humanos. 


Com a inflação sob controle e um crescimento tímido apresentado como uma economia “fortemente aquecida”, o Banco Central e os bancos pressionam o governo para promover uma política econômica voltada para ajustes e cortes fiscais, usando o temor do aquecimento exagerado, anunciado por boletins e declarações de economistas neoliberais e ligados aos bancos, visando obter um pacote de R$ 70 bilhões de cortes para os próximos dois anos, atingindo cortes na previdência e um aumento ínfimo de 2,5% no salário mínimo, depois de transferir do orçamento federal,  mais de 800 bilhões em juros, fora o roubo nos juros dos cartões de crédito e empréstimos pessoais, com taxas no consignado de 1,68% ao mês e operações realizadas por meio de cartão de crédito e cartão consignado de benefício a taxas de 2,49% ao mês, descontado direto no INSS das aposentadorias.


Publicado em (5/6) no site do INSS, mostra que pensionistas tomaram emprestado R$ 7 bilhões, e quem recebe benefício assistencial, R$ 3 bilhões. O levantamento aponta ainda uma alta de 10,9% nos pedidos de empréstimo consignado ante igual período do ano anterior, quando R$ 26,5 bilhões foram emprestados.


O portal da Transparência mostra também que a quantidade de empréstimos consignados subiu no quadrimestre: em 2023 eram 44 milhões de contratos ativos. Já em 2024, no mesmo período, esse número chegou a 45 milhões. O INSS paga, mensalmente, 39.900.730 benefícios.


Como se verifica, manter o salário e as aposentadorias arrochadas é altamente lucrativo para os Bancos.


O crescimento da economia permitiria o fortalecimento da arrecadação da previdência e melhoria mais acentuada dos salários pelo desenvolvimento da economia.


Restringir o mercado interno e o desenvolvimento faz parte da política de manter as fragilidades para perpetuar os juros elevados, altos lucros bancários, concentração da riqueza e cortes de investimentos e serviços públicos.


Em Nota para a imprensa de 30/10/2024 o Banco Central informa e deixa claro a quem beneficia esta política de arrocho:


Em setembro, o saldo do crédito ampliado ao setor não financeiro atingiu R$17,5 trilhões (153,3% do PIB), recuando 0,5% no mês, com contrações de 1,5% nos títulos públicos de dívida e de 3,1% nos empréstimos externos. 

Em 12 meses, o crédito ampliado expandiu 12,6%, com crescimentos de 15,9% nos saldos dos títulos de dívida e de 9,5% nos empréstimos do SFN.

O crédito ampliado a empresas atingiu R$6,1 trilhões (53,8% do PIB), recuando 0,5% no mês, ressaltando-se a contração de 3,1% nos empréstimos externos, reflexo da apreciação cambial de 3,68% no período. 

Em relação a setembro de 2023, a expansão de 12,1% decorreu das elevações de 24,1% em títulos de dívida e de 9,5% nos empréstimos externos.

O crédito ampliado às famílias situou-se em R$4,0 trilhões (35,4% do PIB), crescimentos de 0,5% no mês e de 10,1% em doze meses, refletindo, basicamente, o comportamento dos empréstimos do SFN.


Esse movimento de arrocho monetário e ajuste fiscal atende principalmente às expectativas do mercado financeiro e dos grandes bancos, que preferem o povo endividado e um Estado menos atuante na economia e mais preocupado em perpetuar o arrocho fiscal e monetário, sempre alegando o “controle da inflação” com metas apertadas e fora da realidade, mesmo que às custas de mais endividamento, cortes nos investimentos públicos, aumento dos subsídios ao setor privado, mais privatizações e risco ao crescimento sustentável. 


Esse tipo de ajuste limita o potencial de crescimento econômico e subordina a política econômica aos interesses dos credores, que se beneficiam de uma política monetária restritiva e taxas de juros elevadas. O efeito é uma economia mais dependente de financiamento externo, que responde mais aos interesses do capital financeiro do que às necessidades de crescimento e geração de emprego.



O Real desvalorizado e a dependência dos EUA



A sobrevalorização do Dólar sobre o Real, impulsionado pela política monetária americana e por um contexto geopolítico que favorece momentaneamente a moeda americana, também exerce pressão sobre o real, que continua desprotegido e se  desvalorizando. Isso aumenta os custos de importação, o preço interno dos alimentos baseados no trigo, os ganhos do setor agro exportador gerando novos impactos negativos ao desenvolvimento no Brasil, além de afetar diretamente a capacidade de investimento em áreas estratégicas, como infraestrutura e inovação tecnológica. 


A dependência em relação à moeda americana e aos fluxos financeiros externos é uma vulnerabilidade que limita a autonomia da política econômica brasileira.



A Meta irreal de Inflação e o Compromisso com a Subordinação Financeira


O recente compromisso reafirmado pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, com a meta irreal de inflação, gerou um ajuste na curva de juros, mostrando como o tal compromisso não é com a estabilidade de preços e sim com a manutenção de juros elevados, que apesar das recentes mudanças na composição dos diretores do BC, continua a ser a prioridade. 


Essa postura restritiva ao desenvolvimento e temerosa mantém a economia brasileira subordinada a uma lógica de austeridade, inibindo uma política de crescimento baseada no fortalecimento do mercado interno e nos investimentos em setores estratégicos. 


O resultado é uma economia que busca crescimento pontual, sem uma base estrutural sólida, e que recorre ao aumento de juros ou ao corte de investimentos públicos sempre que surgem possibilidades de pressões inflacionárias, em uma política econômica que favorece o setor financeiro em detrimento da indústria, do setor de serviços e da geração de emprego.


Recente manifesto assinado por renomados economistas aponta a necessidade de flexibilizar as metas de inflação e do arcabouço fiscal, alertas ainda ignorados pela equipe do Ministério da Fazenda.



Urge superar o Modelo Limitado e Dependente imposto pelos Bancos, afinal quem precisa de autonomia é o Brasil, não o Banco Central.


A análise dos dados do IBC-Br e dos indicadores relacionados revela que, embora haja uma expansão econômica tímida, ela ocorre dentro de um modelo que subordina o desenvolvimento nacional aos interesses do mercado financeiro e do capital internacional. A prioridade dada ao controle da inflação em detrimento de um crescimento robusto e inclusivo demonstra como o Brasil está preso a uma lógica econômica que limita seu potencial, reforçando a dependência externa e a fragilidade estrutural. 


Para superar essa limitação, é necessário repensar a política econômica, priorizando o fortalecimento do mercado interno e o estímulo ao setor produtivo nacional, libertando o país da subordinação aos interesses dos bancos e construindo um modelo de desenvolvimento autônomo para o Brasil e voltado para o bem-estar social.


Publicado originalmente no site grabois.com.br


*Miguel Manso é pesquisador do Grupo de Pesquisa sobre Desenvolvimento Nacional e Socialismo da Fundação Maurício Grabois – Engenheiro Eletrônico formado pela USP e Coordenador de Políticas Públicas de Engenharia pela Democracia – EngD.

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