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Tarifaço e soberania nacional: aula pública

Aceitamos o honroso convite dos estudantes caiçaras para ministrar uma aula pública sobre o tarifaço de Trump. O evento em praça pública ocorreu dia 1.8.2025, na Estação da Cidadania em Santos, como manifestação em defesa da soberania nacional.

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A industrialização está no próprio germe do desenvolvimento capitalista, com o ganho de produtividade do trabalho primeiro a partir do vapor e adiante da combustão fóssil e da eletricidade. As relações feudais e mesmo mais antigas foram largamente superadas pela nova forma de produção.


O capital, assim entendido como o resultado do trabalho não imediatamente consumido, acumulou-se sob propriedade crescentemente concentrada. E moveu-se pelo mundo primeiro em forma de mercadorias e, mais adiante, levando consigo meios de produção a terras com facilidade de matérias-primas e energia, assim como mão-de-obra mais barata. Foi a etapa do imperialismo, nominado por Lênin, o líder da Revolução Russa de 1917, como a fase superior do capitalismo.


No século 20, os conflitos interimperialistas levaram a Humanidade a muitos embates e duas guerras mundiais, com extensa destruição dos meios de produção, especialmente mais de cem milhões de vidas humanas.


Os EUA embarcaram junto aos Aliados no enfrentamento ao nazismo, chegando no cenário bélico europeu em 1944, após o Brasil, por exemplo, e quando os soviéticos já marchavam a Berlim. Derrotado o Eixo, ofereceram o Plano Marshall de reconstrução do continente, fixando direitos sobre os resultados dos empréstimos que lhe permitiram assumir a hegemonia do chamado mundo ocidental.


No outro polo, geográfico e econômico, estava o campo socialista liderado pela URSS e surgia, na Ásia, a China independente de Mao Tsé Tung.


A acumulação financeira da nação estadunidense deu-se crescentemente pela exploração de países derrotados, destruídos ou pouco desenvolvidos, o que incluía seguramente a maior parte das Nações Unidas não-socialista. Fez o dólar a moeda internacional em Bretton Woods, destarte a proposta keynesiana de uma cesta de moedas internacional, com o argumento de Hiroshima e Nagasaki, além de algumas tecnicalidades.


Adiante a financeirização – o ganho de dinheiro a partir do próprio dinheiro – reforçou o caixa dos EUA, mas é ineludível que em última instância é a produção real de capital que importa, é do trabalho não imediatamente consumido que sai a riqueza equivalente aos dólares em posse de cada vez menos famílias.


Se a URSS abandonou, desde o final dos anos 50, o caminho do desenvolvimento das relações de produção socialistas, a cúpula americana não contava com a astúcia do milenar povo chinês e seus vizinhos e amigos.


As indústrias que para lá se moveram em busca dos baixos salários pagos aos trabalhadores também fizeram ensinar aos locais como fazer as coisas – e eles aprenderam: hoje a China tem uma economia maior que a dos EUA, quando medida pela paridade do poder de compra. Somada à Índia e à Rússia, que herdou o poderio militar da antiga URSS, integra os BRICS, com B de Brasil, S de África do Sul e agora uma plêiade de outras nações do sul global.


Já Biden queria trazer as indústrias para casa, mas foi preciso uma figura mais próxima do fascismo para tarifar tudo o que vem de fora e assim facilitar a concorrência produtiva doméstica. Uma aspiração legítima. O que é inadmissível é tentar fazê-lo às custas dos semelhantes que não têm o passaporte do país do norte.


Acontece que não só as matérias primas ainda não são constituídas de átomos rearranjados, como se vê nos seriados de ficção científica, nem as cadeias de produção se trasladam com facilidade. Impedir o livre comércio, e mesmo a democracia liberal, para recuperar as margens de lucro, exigiria ativar as “fábricas de fazer fábricas”, como conhecemos no Brasil a indústria de máquinas.


Nosso país é fonte de matérias primas para eles, mas em relação a produtos industrializados nossas fábricas pouco lhe enviam como exportação. É nesse sentido que Trump ataca o Brasil, procurando indispor-nos com nossos novos parceiros e procurando manter-nos como colônia dependente. Quanto menor o salário por aqui, quanto maior a jornada de trabalho, melhor para os capitalistas principais dos EUA.


A altivez verde-e-amarela renasceu com a agressão estadunidense ao Brasil. Unimo-nos em torno dos interesses nacionais da nossa Pátria e a resposta apresentada já surtiu um primeiro efeito quando da publicação do decreto do tarifaço, que excluiu 700 produtos da lista, muitos dos quais integram nossa pauta de exportação.


Mas isso não é o bastante. Se não temos “indústrias para trazer de volta para casa”, vamos fazê-las com base em um projeto nacional de desenvolvimento. Na terra do avião e do pressal, e também das vacinas, da purificação microbiodigestora da água e do motor a ar comprimido, temos uma ciência e uma engenharia capaz de dar vazão à criatividade e laboriosidade deste povo de raça cósmica.


Acredito que o que devemos fazer é (a) impedir o retrocesso e a traição à pátria de serviçais do império americano de chegar aos Poderes da República; e (b) colocar mãos à obra nos projetos estruturantes que farão aproximar o sonho de Tiradentes: construir uma grande Nação neste imenso país. Em paz com todos e generoso para com o povo brasileiro.

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