Uma contribuição para a consulta pública da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, ENCTI 2024 – 2034
- Pedro Pereira de Paula
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Pedro Pereira de Paula
Até quando seremos o país do faz de conta?

Todos sabemos que o desenvolvimento eficaz de C&T&I só pode ser adequadamente abordado por profissionais muito bem formados e muito bem estimulados.
Então, falemos da formação e do estímulo.
Moro em São Paulo, SP. Recentemente vi numa propaganda dentro do metrô a convocação de candidatos para ingressar na PM (Polícia Militar). Requisito: nível médio. Salário inicial: R$ 5050,00 por mês.
Conheço professores da rede pública do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (professores dos candidatos da PM) que ganham (ganham????) R$ 5500,00 por mês no final da carreira. Se eu não fosse brasileiro, poderia imaginar que deva ter algum engano no valor apresentado, poderia imaginar que alguém esqueceu de escrever, pelo menos, um dígito significativo antes da vírgula que separa a casa decimal. Mas, não, é a DURA REALIDADE!!!!!
Façam-me um favor, vamos parar de brincar com coisas sérias. Educação não é brincadeira de criança. As atividades da educação devem ser desenvolvidas por profissionais muito bem formados e muito bem pagos.
Não vou usar linhas do texto para descrever a miséria dos professores, a vida miserável que levam, a vida insana que levam preenchendo planilhas em meios digitais para que os secretários de educação e governantes (bem minúsculos) encham a cabeça da população com conversa fiada, dizendo que o nível melhora cada vez mais, blá, blá, blá... Isto quando não implantam as famigeradas escolas(sic) cívico-militares e ensinam as crianças a cantar obscenidades ameaçando os pobres favelados e outros miseráveis com porrada, tiro e deitar corpos no chão. Tudo isso organizado pelos aposentados da PM com as suas vastíssimas experiências didáticas. Isto é repugnante.
Pergunto aos senhores, e a toda a população: vocês estão andando pelas ruas despreocupadamente????? A PM está cuidando adequadamente da segurança pública e ainda sobra tempo para se meter na educação das crianças? Com que tipos de qualificações?
A escolha óbvia é: repressão em detrimento da educação. E o povo, como método de desgoverno, continua sendo, cuidadosamente, mantido nas profundezas da ignorância para poder ser facilmente manipulado e despejar os votos nas urnas para eleger políticos que não cultivam valores que possamos classificar como adequados para nos colocar na busca dos caminhos para uma sociedade mais bem estruturada.
Enquanto isso, secretarias da educação, ministérios da educação, conselhos tutelares, juízes de menores, pais e mães que jamais deveriam ter tido filhos, sei lá mais que setores da sociedade, que deveriam estar de braços dados com os professores lhes dando todo o apoio necessário para exercerem as suas profissões, lhes viram as costas, pois, afinal, o que é fundamental é fazer a pose de que estão trabalhando em seus respectivos setores e se os professores estão sendo massacrados por todos, ora bolas, que se explodam os professores!
E a nossa grande poetisa Cora Coralina enunciou um sonho quando disse algo como “feliz aquele que transmite o que sabe e aprende o que ensina”. Mais uma grande brasileira solenemente ignorada pelas autoridades da área da educação e pela população em geral.
Uma sociedade que não respeita os seus professores nunca vai evoluir as áreas de C&T&I e, provavelmente, nenhuma outra área. Afinal, numa sociedade como a nossa, aqueles que conseguem estudar nas melhores universidades, sempre estarão com seus olhos voltados para os países mais bem desenvolvidos, logicamente, muito mais bem organizados que o nosso país. Acho que não preciso enumerar exemplos. Há quantos séculos, afinal de contas, estamos neste marasmo...
Falemos, então, dos estímulos.
Há mais de 4 décadas trabalho no desenvolvimento de máquinas elétricas e suas aplicações. Participei, como examinador, de bancas de Mestrado, Doutorado, Exames de Qualificação e concursos para a contratação de professores. Claro que os egressos das nossas melhores universidades atingem um nível totalmente adequado para qualificá-los para encontrar oportunidades de trabalho nos países mais bem organizados e mais desenvolvidos. Quantos exemplos como esses eu conheci? Muitos.
No entanto, em nosso país, se meter a desenvolver P&D é quase uma autodeclaração de insanidade mental. Os obstáculos são absurdos e nem vou me dar ao trabalho de enumerá-los.
Na minha opinião, uma forma de criar os estímulos necessários seria a criação de comitês científicos com a atribuição de definir as áreas a serem desenvolvidas que teriam garantias de todos os recursos necessários para obter resultados num prazo suficientemente longo, com as devidas avaliações ao longo do tempo e correções de rumos, conforme as necessidades. Garantia de remuneração, carreira, participação nos resultados, etc. Acho que podemos imaginar quais seriam as condições para assegurar aos nossos profissionais as condições necessárias para evoluirmos.
Compromissos como estes, devem ser compromissos de Estado, não do governante da ocasião. Devemos criar as condições para a formação das equipes perenes, assegurando-se a continuidade dos projetos e o aprimoramento dos resultados.
Perdemos muitos profissionais muito bem formados para o exterior por absoluta falta de condições objetivas para o desenvolvimento das suas áreas de interesse em nosso país. Os obstáculos aqui encontrados, aqui impostos por uma legislação absurda e retrógrada, que assume a premissa que todos irão roubar recursos públicos, inviabiliza a formação de equipes e a permanência de profissionais em nosso país.
As instituições de pesquisa, as universidades estão em petição de miséria. Quantos exemplos de instituições em situação falimentar por conta de todas as deficiências. Quantas áreas do conhecimento são perdidas pela falta da formação de equipes perenes, pela falta de um mínimo de organização, por todas as faltas que cometemos e que não são adequadamente corrigidas e nem servem para o aprendizado com os erros.
Agora há pouco, ouvi no noticiário que o congresso aprovou o orçamento de 2026 com um aumento das emendas parlamentares (escárnio, acinte, desprezo pelos pagadores de impostos, absurdo repugnante) e com corte do auxílio gás, com corte no Pé de Meia e nas bolsas de pesquisa da CAPES. Ou seja, mais uma reafirmação do desprezo que os governantes e parlamentares têm pelo povo em geral e que é condenado a afundar na ignorância. Afinal, quem mesmo que elege os políticos?
BASTA! BASTA! BASTA!
Pedro Pereira de Paula
Engenheiro Eletricista, Dr.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/6630860718207309
São Paulo, 19 de dezembro de 2025.




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