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Linha 20-Rosa: promessa ou armadilha urbana?

  • Foto do escritor: EngD
    EngD
  • 12 de set.
  • 2 min de leitura

Ivan Maglio

O caso da Linha 20 expõe a crise do transporte metropolitano: monotrilho do ABC abandonado, substituído por BRT de menor capacidade, VLT engavetado e metrô conduzido sem visão de longo prazo. Assim, o projeto corre o risco de nascer mais como vetor de valorização imobiliária do que solução para a massa trabalhadora.


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A Linha 20-Rosa do Metrô é anunciada como uma das maiores obras de mobilidade de São Paulo. Com 32,6 km, 24 estações e custo estimado em R$ 33,5 bilhões, deve ligar a Lapa ao ABC e transportar 1,29 milhão de passageiros por dia em 2040. A grandiosidade impressiona, mas o projeto acumula contradições que expõem dilemas urbanísticos, ambientais e jurídicos.


O traçado em arco Leste–Oeste, que cruza o ABC, não atende o centro de São Bernardo do Campo, a maior cidade da região e uma das que mais necessita de transporte de massa. Estudos apontam que um eixo Norte–Sul seria mais eficaz, mas a decisão parece ter favorecido interesses imobiliários. O mesmo ocorre na Faria Lima: das três estações previstas, sobraram apenas duas, além de uma nova próxima ao Cemitério São Paulo. A redução da cobertura em um dos maiores polos de emprego da América do Sul gerou críticas e mobilização popular.


Na Vila Madalena, o metrô pode acelerar a gentrificação, provocando verticalização, expulsão de moradores de renda média e baixa e descaracterização cultural de um dos bairros mais emblemáticos da cidade. Outro ponto polêmico é a futura Estação Girassol: discute-se vincular a Licença Prévia ambiental da CETESB à criação automática de uma ZEU (Zona de Estruturação da Transformação Urbana) por decreto municipal. Especialistas alertam que essa prática subverte o processo democrático de revisão urbanística previsto no Estatuto da Cidade, favorecendo a especulação.


O Estudo de Impacto Ambiental já identificou 51 impactos, sendo 33 negativos, incluindo 680 desapropriações, aumento de tráfego, riscos ao patrimônio cultural e supressão arbórea. Embora medidas mitigadoras estejam previstas, sua eficácia depende de fiscalização rigorosa, algo incerto diante da fragilidade do planejamento estatal.


O caso da Linha 20 expõe a crise do transporte metropolitano: monotrilho do ABC abandonado, substituído por BRT de menor capacidade, VLT engavetado e metrô conduzido sem visão de longo prazo. Assim, o projeto corre o risco de nascer mais como vetor de valorização imobiliária do que solução para a massa trabalhadora.


A Linha 20-Rosa pode ser um avanço histórico, mas apenas se planejada com transparência, participação social e foco no interesse público. Caso contrário, pode se tornar mais um símbolo da desigualdade urbana paulistana.


Ivan Maglio é Dr. em Saúde Ambiental e Pós Doutor pelo IEA e FAU-USP; Superintendente do Instituto Panamericano de Meio Ambiente – IPAM; e Diretor da PPA – Política e Planejamento Ambiental.


A matéria foi publicada originalmente na Gazeta de Pinheiros: Linha 20-Rosa: promessa ou armadilha urbana? - Gazeta de Pinheiros

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