Por Miguel Manso
As eleições em segundo turno das grandes cidades e capitais de estado tem grande importância para a vida das pessoas e para os rumos do Brasil.
De maneira geral os prefeitos e candidatos das grandes cidades que apoiam ou permanecem reféns dos interesses dos bancos ou dos especuladores imobiliários nada fazem para reverter o perverso quadro de endividamento e baixa capacidade de investimentos para a recuperação das nossas cidades.
Explico melhor.
Nos governos neoliberais, e elegendo bancadas e manipulando o Congresso Nacional, os bancos conseguiram impor a famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal.
Essa lei impede o estado de contingenciar os abusivos pagamentos para juros da dívida pública imposta pela banca, obriga o governo a cortar gastos dos serviços públicos que a população precisa, como infraestrutura, saúde, educação, segurança e transporte, tudo para canalizar os impostos arrecadados, via o superávit primário, para os bancos. O absurdo Bolsa banqueiro.
Nos últimos anos pouco mais de 20 mil famílias, super ricas, receberam trilhões de reais de impostos arrecadados, que eles não pagam, para seguir enriquecendo sem parar e sem limites legais ou constitucionais. Em 2024 apenas vão abocanhar um trilhão de reais através do pagamento de juros, e a dívida pública que eles nos impuseram segue subindo.
São Paulo, por exemplo, durante a gestão do prefeito Haddad conseguiu uma renegociação do índice da dívida pública da cidade e reduziu a dívida e os pagamentos de juros em mais de dois terços, o que deu, a partir de 2016, um novo fôlego orçamentário.
O excessivo rigor de Haddad com os cortes e as finanças da cidade fez com que ele aumentasse o preço da passagem de Ônibus. Algo muito sensível e que onera muito o orçamento das famílias e que mantém os mais pobres sem mobilidade, presos em guetos na periferia e impedidos na prática de circular e usufruir dos serviços da cidade.
Doria se aproveitou dessa fragilidade fiscalista de Haddad e durante sua campanha em 2016 disse que não aumentaria o preço das passagens, e surfando, já na onda neo liberal e no desgaste do Governo Dilma que levou ao seu impeachment, Haddad perdeu as eleições e o pinóquio Dória se elegeu prefeito.
Dória mentiu e seguiu dizendo que Haddad deixara um rombo de 7 bilhões no caixa da prefeitura. Governou para as elites e passou o governo em campanha para se eleger Governador, deixando Bruno Covas, seu vice, na prefeitura.
Bruno Covas em seu segundo mandato fez de Nunes seu vice-prefeito, Bruno faleceu e Nunes assumiu e agora tenta a reeleição.
Daí a importância de observar bem quem será o vice-prefeito em sua cidade se um candidato esconder o vice. Em SP, se vende o Nunes, será um coronel da PM com currículo e discurso de violência policial e perseguição ao povo pobre da periferia.
Lula, experiente nestas coisas, colocou a experiente Marta Suplicy na vice de Boulos.
O que esperar da eleição dos candidatos neoliberais e bolsonaristas senão que sigam apoiando o enriquecimento dos bancos, sem qualquer limites, "protegidos pela lei de responsabilidade fiscal, pelo arcabouço fiscal" e outras barbaridades legalizadas. Para perpetuar esse abuso de poder contra o povo, as elites banalizam e abusam da violência policial, corrompem e desvirtuam as funções da polícia, promovem psicopatas e elementos anti sociais e as usam como segurança privada, dão mãos livres para as milícias, tudo para manter a população sem direitos e presa nos guetos das periferias.
Quem conhece a obra de Victor Hugo - os Miseráveis sabe bem do que se trata, para os amigos a fortuna, para o povo a lei, a policia truculenta, a cadeia e os guetos e favelas.
Dória venceu para Governador em disputa acirrada fazendo uma aliança com Bolsonaro, o famigerado Bolso/Doria, e assim ajudou Bolsonaro a vencer as eleições em 2018 para Presidente.
O resultado nós ja conhecemos, tivemos o pior presidente da república de todos os tempos, negacionismo, genocídio durante a pandemia com quase um milhão de mortos e sequelados pela Covid.
Dória elegeu-se, tentou novamente o salto para a Presidência, mas o povo de SP não perdoou pela mentiras e pelo abandono e impediu sua ascensão. Agora no ostracismo tenta retornar em aliança novamente com Bolsonaro, Tarcisio e Nunes.
O que essa gente tem a oferecer ao povo é roubar as empresas públicas lucrativas e que pertencem ao povo, seguir no aumento das tarifas públicas e piora de todos os serviços, desviar o dinheiro dos impostos para pagar os juros mais caros do mundo e comprar com seu capachismo ao bilionários seu apoio para permanecer no poder.
Para agradar essa elite degenerada e sem limites, a ultra direita segue com sua política de arrocho dos salários, desindustrialização em massa em todo o Brasil e em especial em SP, transformar empregos formais em uma ilusão de que o desempregado pode ser um "empreendedor individual", em uma sociedade organizada para falir até mesmo bons e grandes negócios, gente experiente, que vê suas empresas fechando por falta de consumidores, por falta de mercado, por falta de poder aquisitivo da população, por endividamento das famílias e das pequenas empresas.
Conseguimos a duras penas derrotar Bolsonaro e suas mentiras, revertendo os seis milhões de votos que SP havia dado de vantagem a Bolsonaro.
Tarcísio se elegeu governador em SP, mas já com o campo bolsonarista mais enfraquecido. Apesar do seu apoio à tentativa de golpe, nós derrotamos o retorno da ditadura de Bolsonaro e avançamos na redemocratização do país. Os extremistas de direita querem fugir da cadeia e das punições de seus crimes e tentam retomar espaços que perderam.
Esperamos sinceramente que o Ministro Haddad tenha aprendido com a derrota da prefeitura em 2016. O fiscalismo e arrocho monetário e fiscal com tetos e metas absurdas para "manter as contas em ordem", ou seja, na ordem imposta pelos bancos, especuladores e magnatas e suas corporações não satisfaz o apetite sem limite deles, e insistir nessa fuga neo liberal pode colocar o governo Lula em risco nas próximas eleições nacionais, como aconteceu aqui em SP nas eleições de 2016, e não vai fazer dele o queridinho da Faria Lima.

Nesta eleição já assistimos no primeiro turno vitórias importantes contra os candidatos de Bolsonaro, como no RJ com a vitória de Paes, em Recife uma eleição consagradora de João Campos e impedimos em SP a aventura do "Coach" falsário.
Vimos o campo bolsonarista e de ultra direita se dividir nas candidaturas a prefeito, Bolsonaro muito constrangido por seus antigos seguidores o escondendo na campanha, Nunes quer o apoio mas não quer que ele apareça. Marçal critica o capitão. Até o Malafaia diz que o Bolsonaro é um líder fraco.
Ainda estamos a poucos dias da eleição do segundo turno.
O campo progressista e democrático pode vencer as eleições em capitais e cidades importantes como Fortaleza, Belo Horizonte, Olinda, Guarulhos e outras mais, e aprofundar essa derrota do campo Bolsonarista, que fez tanto mal ao Brasil e aos brasileiros.
A eleição está muito dividida em SP. Muitos eleitores vão definir seu voto na última hora, muitos vão se abster, principalmente eleitores que votaram no Marçal e que não aceitam votar no Nunes.
A hora agora é de disputar cada voto.
Não apenas para buscar a vitória nas eleições, mas para retirar mais pessoas que se confundiram com as promessas e mentiras dos candidatos da direita, que diante do desespero da população que não vê ainda sua vida melhorar se mantêm iludido nas soluções milagrosas dos mitos, inventados pelos interessados em manter as cidades e o Brasil refém dos Bancos e seu braço de especuladores imobiliários.
Então podemos afirmar que estamos avançando, com as dificuldades conhecidas por todos, de um Congresso Nacional dominado por bancadas de lobistas, com as cidades abandonadas e reféns ainda do crime organizado, que se apoia nas milícias, e nos candidatos da extrema direita, para ocupar espaços na administração das cidades e buscar territórios onde dominem para seus crimes.
Derrotar nestas eleições municipais os candidatos bolsonaristas e buscar em frente ampla eleger aliados do campo democrático continua sendo vital para a população.
A luta é dura mas estamos avançando.
Vamos atrás de cada voto em defesa da democracia, da reconstrução, do progresso e justiça social.
Miguel Manso
Engenheiro Eletrônico formado pela USP
Especialização em Telecomunicações pela UNICAMP
Especialização em Inteligência Artificial pela UFV
Coordenador de Políticas Públicas da EngD
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