Luiz Carlos Azenha
Certa vez o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse que as empreiteiras e suas fornecedoras comandavam o orçamento público. Acho que vem desde o "estradeiro" Washington Luís, mas acelerou sob o JK na construção de Brasília e explodiu com as grandes obras da ditadura militar.
Exemplo: a fabricante de turbinas (a alemã Siemens ou a francesa Alstom, para efeito de exemplo) precisa produzir um determinado número de unidades para justificar sua própria existência e aí faz lobby pela instalação de usinas hidrelétricas mundo afora.
Como se sabe, embora pudesse ter feito isso e seja um país eminentemente hidrelétrico, o Brasil jamais desenvolveu ou incentivou a sua própria tecnologia.
Pode procurar na lista dos maiores fabricantes de aerogeradores do planeta e não existirá nenhuma empresa brasileira lá, embora o potencial de geração de energia eólica no Brasil seja imenso.
Uma das maiores é a dinamarquesa Vestas. Sim, estamos falando da Dinamarca!
A Ecogen, uma das maiores fabricantes de painéis solares, é do grupo japonês Mitsui. No país da energia solar!
Meu ponto é que o Brasil não comanda o seu próprio orçamento público e nem faz dele um instrumento para desenvolver tecnologias aqui mesmo, gerando riqueza local e empregos de qualidade.
Por isso surgem situações bizarras nos sistemas de infraestrutura, que muitas vezes não se comunicam. Quanto você tem um mesmo sistema de metrô partilhado por várias concessionárias, por exemplo, como está acontecendo em São Paulo, as soluções tecnológicas podem ser contraditórias entre si e você perde a vantagem de comprar peças de reposição, por exemplo, em escala. Quantas concessionárias tem o Metrô de Nova York? Nenhuma, pelo motivo acima citado: lá, o capitalista quer movimento de gente ao custo mais barato possível.
As concessões de estradas, aeroportos e hidrelétricas padecem do mesmo problema: os concessionários querem apenas o filé mignon, com retorno garantido, e os sistemas como um todo sofrem por falta de investimento público ou por interesses contraditórios. O aeroporto de Congonhas brilha, mas os de cidades do interior do Brasil são abandonados (o dinheiro que deveria ser investido neles, antes nas mãos do Estado, agora vai para o concessionário).
O exemplo mais bizarro, certamente, é o do trem da CPTM que chega ao aeroporto de Guarulhos, mas você precisa arrastar as malas para pegar um ônibus e chegar aos terminais. Nos aeroportos concedidos no Brasil são valorizados acima de tudo os shopping centers (os do cafezinho a R$ 18,00).
A morte matada das ferrovias brasileiras é um caso a ser estudado. Nenhuma capital brasileira é ligada a outra por trem de passageiros. Na era do petróleo caro, só cinco metrópoles têm trens de subúrbio. O serviço da concessionária do Rio de Janeiro é sofrível, para dizer o mínimo. Quando a Vale quis fazer uma grande ferrovia, importou os trilhos!
O Brasil não fabrica mais trens. É tudo europeu ou, obviamente, chinês. Com o surgimento de várias concessionárias, é possível que surjam novas obras, desde que o Estado banque o custo político das desapropriações e das obras de infraestrutura que garantam o lucro privado.
A combinação do discurso do Estado mínimo com o da privataria matou a capacidade do País de se organizar minimamente como um país capitalista moderno.
Aqui eu falo como se fosse um empresário: como é que minha empresa vai prosperar se meu empregado leva três horas e quatro conduções para chegar (quebrado) ao emprego e atender meus clientes?
Embora eu não acredite que vá dar certo, visto que no sistema capitalista vigente fomos empurrados ao papel de fornecedor de matérias primas sem qualquer valor agregado, não custa dizer que o caminho passa por RESGATAR A SOBERANIA, mas não como discurso vazio: resgatar a capacidade de gerenciar o território nacional e implantar soluções que beneficiem acima de tudo o povo brasileiro.
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