Por Miguel Manso
Todos os ex-ministros de Bolsonaro que disputaram as eleições foram derrotados. Na principal eleição em que concentrou seus esforços, no seu estado - o RJ, foi derrotado logo no primeiro turno por uma frente ampla liderada por Paes. O irmão - Renato Bolsonaro (PL), não se elegeu como prefeito de Registro, cidade na região do Vale do Ribeira, em São Paulo. O "mito" elegeu dois filhos a vereador, já é alguma coisa.
Perdeu para o Governador Caiado em Goiás. Perdeu a liderança da direita em SP para o Governador Tarcisio, tratado pelo prefeito Nunes como um apoio incomodo, que declarou vitória sobre "os extremistas".
As manchetes dos jornais, que antes o apoiaram, não pouparam o decadente líder da extrema direita:
Veja: - Bolsonaro é o maior perdedor do segundo turno. - Candidatos do ex-presidente são derrotados em Goiânia, Belo Horizonte, Curitiba e Fortaleza. O atual prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), foi reeleito contra o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Marcelo Queiroga (PL).
O Globo: - Bolsonaro perde embate com governadores de direita, e PL sai derrotado em sete de nove capitais no segundo turno
Uol - Bolsonaro perde em 8 das 11 cidades que visitou na reta final do 2º turno
Na eleição mais simbólica e importante, a capital de São Paulo, o quadro não é nada animador, nem para Nunes, nem para Bolsonaro ou Tarcisio. A eleição de Nunes aprofundou a divisão dos líderes da direita, desgastou o governador Tarcísio no eleitorado. Eleitorado que protestou, e foi o grande ausente desta eleição, aumentando as abstenções, e votando em nulos e brancos, quebrando um recorde histórico, de descontentamento com o processo eleitoral, o número de ausentes chegou em 31,54%, ou seja, 2.940.360 eleitores, o número bateu 2020, ano da pandemia do coronavírus. Brancos foram 234 mil e nulos, 430 mil.
O número de eleitores que se abstiveram, votaram nulo ou em branco em São Paulo superou o total de votos obtidos pelo prefeito reeleito, Ricardo Nunes (MDB). Ao todo, 42% dos eleitores da capital paulista não escolheram nem Nunes nem Guilherme Boulos (Psol) neste domingo. Este número aumentou em relação ao primeiro turno, quando 37,12% optaram por nenhum candidato. Apesar do número alto de pessoas que se abstiveram ou registraram votos brancos e nulos, no segundo turno das eleições de 2020, a taxa foi ainda maior. Quase 45% da população apta a votar decidiram não escolher entre Bruno Covas (PSDB), que foi eleito, e Guilherme Boulos.
Cerca de 3,6 milhões de eleitores paulistanos não compareceram às urnas ou votaram em branco ou anularam o voto. O prefeito reeleito perdeu das abstenções, nulos e brancos e obteve 3.393.110 votos (59,35% dos válidos), enquanto o seu adversário recebeu 2.323.901 (40,65%).
Em relação às eleições de 2020, Tarcisio e Bolosnaro praticamente não acrescentaram votos a Nunes, apesar do uso intensivo e abusivo da máquina pública e de dinheiro, Nunes obteve pouco mais de 200 mil votos do que Bruno Covas em sua eleição em 2020.
A resposta do eleitor de SP, na campanha de mais baixo nível desde a redemocratização, foi protestar, abstendo-se e anulando votos.
Nunes e Tarcisio venceram de Boulos, mas saem muito desgastados desta eleição, com as denuncias de incompetência, corrupção, processos sem licitação, uso da máquina pública em favor do candidato, ausência de esperança e projetos de verdadeira melhoria da vida das pessoas. Entre os que votaram em Nunes prevalece o descrédito, o espirito de votar por falta de alternativa e não por acreditar na capacidade do prefeito.
MDB e PSD comemoram o crescimento de seu desempenho quantitativo nas eleições, feito às custas de maior definição e identidade com a democracia e a social democracia, o PL e Republicanos cresceram perifericamente em quantidade e seguem divididas e se enfraquecendo como alternativa hegemônica para 2026.
A esquerda deteve a trajetória de queda, avançou em prefeituras importantes em grandes cidades e aliados de Lula venceram nas capitais do sudeste, nordeste, centro oeste e norte.
O esforço de alguns analistas e políticos para cobrar da esquerda mais engajamento com as pautas ditas identitárias e uma redefinição de rumos que menospreze a dureza do combate a ser travado com o fascismo, e a direita que o apoia, perdeu fôlego.
O maior derrotado é Bolsonaro e seu legado é a divisão da direita.
A realidade continua a cobrar muito pé no chão, frente ampla e compromisso com as mudanças, nas condições de pobreza e miséria, em que ainda vive o nosso povo.
Seria bom não ignorar o recado das urnas.
Miguel Manso
Engenheiro Eletrônico formado pela USP
Especialização em Telecomunicações pela UNICAMP
Especialização em Inteligência Artificial pela UFV
Coordenador de Políticas Públicas da EngD
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